Bastam uns minutos para descobrir que o vídeo dos adeptos do Chelsea a destruírem uma esplanada é de 2012 em Munique, na Alemanha. Há muita gente indignada com esse vídeo, em que adeptos do Chelsea destruíram uma esplanada e também agridem um funcionário, numa cena alegadamente ocorrida no Porto, por ocasião da recente final da Liga dos Campeões entre o Chelsea e o Manchester City. [Foi o caso do ex-deputado José Ribeiro e Castro, no Facebook, que mais tarde inseriu uma nota a corrigir a origem do vídeo, com o seu “post” a ter mais de 240 partilhas]. Mas é mais um caso de indignação sem verificação.

Vi-o no domingo à noite (partilhado no Facebook por dois amigos jornalistas que entretanto eliminaram as publicações) e fiz o que faço sempre que desconfio da veracidade de uma publicação: verifico e aviso os autores quando constato tratar-se de um disparate.

Este tipo de verificação rápida está ao alcance de todos. Basta parar uns segundos e pesquisar antes de partilhar.

O vídeo tinha vários elementos que podiam afastar de imediato a hipótese do Porto, como a ausência de máscaras (embora também ali tenham escasseado), o tipo de camisolas dos adeptos (aqui assumo a minha total ignorância e desinteresse pelo tema, pelo que não segui essa linha de pesquisa), as marcas das latas de cerveja, que não eram nacionais, ou dos chapéus de sol (que mais tarde identifiquei como sendo da cervejaria Augustiner Bräu).

Mas o objetivo era verificar rapidamente a proveniência do vídeo. E neste, como na maioria dos casos, bastou ir ao Google fazer uma pesquisa com os principais elementos visíveis. Tentei “adeptos+chelsea+esplanada” (ainda uso esta formulação para garantir que os resultados contém as várias palavras, mas também as podem separar pelo operador de pesquisa AND) mas, à data, apenas surgiam vídeos de outros desacatos.

Quando não há resultados em português deve tentar-se em inglês, pelo que pesquisei por “chelsea+fans+destroy“, mas podia ter tentado outras formulações. O resultado foi imediato e revelou tratar-se de um vídeo filmado em 2012, em Munique, como explica este artigo do Independent.

 

Há mais técnicas simples que não cheguei a utilizar, mas que também podem produzir bons resultados, como a pesquisa reversa de imagens. No caso dos vídeos, é necessário isolar vários “frames” (imagens fixas) e depois passá-los pelos motores de pesquisa Google e Yandex, por exemplo.

Outra opção com resultados ainda melhores, sobretudo para quem apenas usa telemóvel, é fazer o mesmo procedimento através da aplicação Google Lens. Basta captar um ou mais “frames” e pesquisá-los na app.

Regressando aos resultados obtidos, e dado que o artigo do Independent e os outros, todos de 2016, datam da aparente primeira divulgação do vídeo no Twitter mas não identificavam o local exacto, passei à fase da geolocalização.

 

Voltei a analisar os vídeos (havia um outro) e identifiquei todas as pistas. No outro vídeo, além da arquitetura do edifício junto ao qual ocorre a cena, há um “frame” com outro elemento importante: mostra o que parece ser a cúpula de uma igreja.

Com esse elemento e a identificação da cidade bastou pesquisar por “church+dome+Munich”, desta vez no Google Imagens, e rapidamente identifiquei uma candidata, a Theatinerkirche St. Kajetan.

File:Theatinerkirche Munich, March 2018.jpg

Depois, bastou procurar este monumento no Google Maps, activar a camada 3D e tentar geolocalizar todos os elementos, o que demorou apenas uns instantes até perceber que as imagens foram captadas numa esplanada localizada no recinto do jardim Hofgarten.

Nas fotos disponíveis no Google Maps consegue-se também chegar a esta imagem panorâmica que permite identificar a esplanada em causa.

Outra abordagem possível, caso não tivesse acesso ao “frame” da cúpula, seria pesquisar por “arcades+bar+munich”, no Google Imagens, o que permite chegar a uma foto com elementos comuns aos do vídeo, e a partir daí identificar facilmente o Hofgarten.

Ao longo do processo, fui avisando amigos e desconhecidos e posteriormente publiquei estes passos no Twitter, onde costumo partilhar este tipo de verificações. Quem quiser saber mais sobre técnicas simples de verificação pode também espreitar este #twitterchatpt onde estão mais dicas.

* Artigo de Luís Galrão, factchecker freelancer. Algumas imagens estão sujeitas a diferentes tipos de direitos, indicados nos links.