Será que as plataformas de redes sociais menos regulamentadas conduzem inevitavelmente a uma explosão de ódio e discurso tóxico? Isto é o que vemos nas plataformas de extrema-direita que surgiram nos últimos anos. Resta saber se este é o destino que aguarda o Twitter.

Vários dos utilizadores banidos do Facebook ou do Twitter refugiaram-se no Gab ou no TruthSocial onde, segundo Gianluca Stringhini, da Universidade de Boston, “a sua actividade online tende a tornar-se mais extrema”. O único lado positivo é que a sua comunidade é menor.

Mas poderá a mudança que o Twitter parece estar a fazer com Elon Musk alterar a situação? Desde a primeira semana após a aquisição, as análises preliminares revelaram um aumento dos insultos racistas e antissemitas. Desde então, multiplicaram-se as preocupações, com o anúncio de que as contas outrora proibidas estavam a ser re-activadas.

Normalmente, muitas narrativas extremistas começam em plataformas mais marginais e aí permanecem confinadas. É quando se espalham pelo Twitter ou no Facebook que ganham popularidade, porque é aí que os jornalistas as descobrem. Até agora, a política interna do Twitter de limitar o discurso de ódio e a desinformação sobre a Covid reduziu as hipóteses destas mensagens chegarem a uma grande audiência.

A menos que o Twitter, pela perda gradual dos seus anunciantes, se encolha para a lista destas plataformas extremas? Esta é a hipótese defendida num artigo da revista Nature pelo perito em terrorismo James Piazza, da Universidade Estadual da Pensilvânia. “Estas comunidades estão a degenerar ao ponto de já não serem realmente utilizáveis: são submergidas por bots, pornografia, conteúdo censurável”.

Por agora, estes peritos em desinformação estão reduzidos a especular, uma vez que a mudança de propriedade é demasiado recente. Mas muitos investigadores já estão a preparar protocolos para comparar o “antes” e o “depois” de Musk e ver se é possível identificar tendências na disseminação de informações falsas ou do “ciberbullying”.

Entretanto, aqueles que estudaram o impacto das redes sociais na violência étnica nos últimos anos estão preocupados, nota a Nature. Quando se tem “múltiplos actores que fazem incitamento público a cometer crimes”, esses crimes acabam por ser cometidos, diz Félix Ndahinda, que tem estudado o ódio online em torno dos conflitos armados na República do Congo.

A maioria destes discursos escapa aos moderadores das plataformas, porque são cometidos em línguas sujeitas a uma reduzida vigilância. Mas ter ainda menos moderação, ou mesmo nenhuma, só os vai ajudar ou até mesmo atrair desinformadores oportunistas para o Twitter – porque apesar de a rede ser muito menos popular do que o Facebook, ainda é, para já, mais popular do que outras plataformas de extrema-direita. “Vai encorajar estes intervenientes e aumentará a virulência dos seus discursos”.

Por Agence Science-Presse