“As autoridades policiais têm poderes limitados para conter a manipulação da informação, que pode assumir a forma de tentativas de distorcer o discurso político, manipular eleições, erodir os princípios democráticos, semear a desconfiança nas instituições, intensificar as divisões sociais, fomentar a insegurança e espalhar a discriminação e a xenofobia”.

A constatação do relatório “Serious and Organised Crime Treath Assessment“, da Europol, prossegue com o aumento da digitalização, quando “também aumentam os desafios da crescente disseminação de desinformação, notícias falsas e teorias da conspiração. O uso de ‘deepfakes’ será provavelmente um sério desafio para o ambiente digital”.

O “retrato” da Europol sobre o cibercrime passa pela constatação de que este – apesar de ter aumentado e ser mais sofisticado – é normalmente perpetrado por criminosos individuais e significativamente pouco denunciado às autoridades.

Esse número crescente de investigações permitiu notar como “o número de redes criminosas é baixo”, e tal pode dever-se a que “o cibercrime envolve muitos criminosos que operam individualmente e não no âmbito de redes estabelecidas”.

Os “serviços do cibercrime” podem ser adquiridos pagando uma avença, um pagamento por aluguer para a tarefa ou com uma percentagem dos lucros do crime”. Este “modelo de negócio do ‘crime-as-a-service’ torna os serviços criminosos facilmente disponíveis para qualquer pessoa, reduzindo o nível de especialização anteriormente necessário para realizar actividades criminosas específicas”.

Isto ocorre igualmente porque as “plataformas online fornecem instruções acessíveis sobre como realizar a maioria dos crimes. Os manuais e tutoriais oferecidos vão desde a produção de drogas sintéticas ao fabrico de fracas armas de fogo e dispositivos explosivos improvisados, até a todos os tipos de actividades dos cibercrimes”.

A polícia europeia refere ainda que “as criptomoedas continuam a ser um meio importante de pagamento por serviços e produtos criminosos. A descentralização e o semi-anonimato continuam a torná-las atraentes para as transacções criminosas”.

Já o interesse da Europol nas “fake news” disseminadas nos media sociais e nos serviços de mensagens não se prende directamente com essa desinformação – que, em si mesma, não leva geralmente a comportamentos criminais – mas por poder “encorajar ou facilitar actividades criminosas”. Isso ocorreu com a actual pandemia, em que os autores de fraudes ou de falsificações a usaram para venderem produtos ou atrair incautos para as suas fraudes.

“O cibercrime é altamente dinâmico, explorando tecnologias que se desenvolvem rapidamente. As infra-estruturas críticas continuarão a ser visadas por cibercriminosos nos próximos anos, o que representa riscos significativos. Desenvolvimentos como a expansão da Internet das Coisas (IoT), o aumento do uso da inteligência artificial (IA), aplicações para dados biométricos ou a disponibilidade de veículos autónomos terão um impacto significativo. Essas inovações criarão oportunidades criminosas. O desempenho dos sistemas e as aplicações de IA dependem de conjuntos de dados. O acesso malicioso a esses dados envolve a divulgação de informações pessoais. Se a IA for usada em sistemas de tomada de decisão, a manipulação de dados pode ter consequências graves para utilizadores individuais. Espera-se que o uso criminoso da IA, incluindo a exploração de ‘deepfakes’, aumente no futuro. A incorporação da IA nas técnicas existentes pode ampliar a finalidade e a escala dos ciberataques. O uso das criptomoedas e a proliferação de técnicas de anonimato, incluindo a criptografia, continuarão a crescer”.