Se Portugal ficasse sem acesso à Internet durante 365 dias, o custo económico calculado seria de mais de 73,7 milhões de euros. Se um evento desses ocorresse durante um mês, atingiria os 6 mil milhões de euros. E apenas um dia offline ultrapassava os 202 milhões de euros.

Na eventualidade de se ficar 24 horas sem uma das redes sociais mais usadas (YouTube, Facebook, Twitter, Instagram ou WhatsApp), o custo  poderia atingir os 3 milhões de euros de impacto económico.

Por comparação, se o “blackout” ocorresse durante um dia em Espanha, esse valor chegava quase aos 1,4 milhões de euros. No caso dos EUA, o impacto total diário rondaria os 7 mil milhões de dólares.

Em termos de regiões, se a União Europeia (UE) ficasse sem Internet, o valor afectado seria de quase 19 mil milhões de euros por dia, enquanto se o mundo ficasse todo sem acesso online, esse valor rondava os 50 mil milhões de euros. Ou seja, o impacto na UE e nos EUA juntos seria de cerca de metade do valor total.

São eventos raros mas que os há…

As estimativas são da responsabilidade do simulador Cost of Shutdown Tool (COST), lançado em 2018 pela NetBlocks e a Internet Society, e servem para indicar o impacto económico de uma hipotética disrupção da Internet fixa e móvel, perante a inexistência de acesso a dados móveis ou a restrições a certas aplicações móveis.

A metodologia estima o impacto no PIB ao agregar indicadores do World Bank, União Internacional de Telecomunicações (UIT), Eurostat e U.S. Census. O câmbio da moeda entre dólar e euro refere-se a Novembro de 2019.

A própria empresa assegura que este tipo de eventos é “raro e dura normalmente apenas algumas horas”.

Mas casos recentes como o de Myanmar mostram que os cortes nos acessos online podem durar semanas. “Numa provável tentativa de conter protestos em massa contra a sua tomada do poder e reduzir o fluxo de notícias e informações, os militares de Myanmar, conhecidos como Tatmadaw, obrigaram rotineiramente as operadoras de telecomunicações a desligar o acesso à Internet móvel. Isto bloqueou os dados móveis em todo o país a partir de 15 de Março e, desde 2 de Abril, foi desligada toda a Internet de banda larga sem fios, deixando disponíveis apenas serviços de linha fixa, aos quais poucos têm acesso. Um apagão total da Internet foi imposto todas as noites desde 15 de Fevereiro”, escreve a Rest of World, mostrando como toda a economia digital do país “colapsou” com o bloqueio à Internet móvel.

A culpa é das idosas ou dos castores

Outras razões – como a limitação da liberdade de expressão na Índia – podem levar a uma paragem ou a deficiências no funcionamento da Internet.

Por exemplo, no início de Abril, várias notícias deram conta de como Aishtan Shakarian, uma idosa da Geórgia, procurava cabos de cobre e “acidentalmente danificou com a sua pá um cabo de fibra óptica internacional responsável por 90% do tráfego da Internet na Arménia”. Embora algumas empresas de telecomunicações tenham conseguido arranjar alternativas pelo Irão, “a maioria dos 3,2 milhões de cidadãos da Arménia ficou sem serviço de Internet durante 12 horas, assim como algumas partes da Geórgia e do Azerbaijão”. Mais tarde, Shakarian negou ter realizado tal corte, e que nem sequer tinha força física para o fazer.

Também nessa altura, um homem foi detido pelo FBI no Texas por tentar explodir um centro de dados da Amazon com o objectivo de “deitar abaixo” a Internet.

Seth Aaron Pendley “afirmou supostamente que planeava usar explosivos C-4 para atacar centros de dados de empresas de tecnologia numa tentativa de ‘acabar com cerca de 70% da Internet'”.

Pendley acreditava que estes “servidores Web forneciam serviços ao FBI, CIA e outras agências federais”, referiu em comunicado o Departamento de Justiça. “Ele disse que esperava derrubar ‘a oligarquia’ actualmente no poder nos Estados Unidos”. Se for condenado, pode ficar preso até 20 anos.

Num inquérito realizado online pelo Pew Research Center entre 19 e 24 de Março”, cerca de nove em cada dez adultos norte-americanos (93%) disseram que uma grande interrupção no seu serviço de Internet ou móvel durante a pandemia seria um problema na sua vida diária, incluindo 49% que vêem uma interrupção como um grande problema e 28% que acreditam que seria um moderadamente grande problema”.

No Canadá, o problema foram os castores. Cerca de 900 clientes em Tumbler Ridge, ficaram sem serviço de Internet após eles “roerem um cabo de fibra crucial, causando ‘extensos’ danos”, revelou a CBC.

A operadora de telecomunicações Telus referiu que, “numa ‘reviravolta muito bizarra e exclusivamente canadiana’, as equipas descobriram que castores mastigaram o cabo em vários pontos, fazendo com que a Internet caísse”. Os animais “cavaram no subsolo ao longo de um riacho para alcançar o nosso cabo, que está enterrado a cerca de um metro de profundidade”.

Bizarra foi também a perda do site argentino da Google, durante duas horas. O Web designer Nicolas Kuroña conseguiu adquirir o domínio google.com.ar, apesar da empresa assegurar que a sua renovação apenas terá de ocorrer em Julho próximo. O domínio foi depois devolvido à Google. No entanto, “em muitos anos de uso de dados de domínios, nunca vi nada assim”, sintetizou Andrés Vázquez, investigador do projecto Open Data Córdoba.

Nova Internet a passar pela China

Mais preocupante, sem dúvida, são os planos da China e da Huawei para o 6G. Esta empresa está a propor “um redesenho fundamental da Internet, que chama de ‘New IP‘, concebido para garantir uma ‘segurança intrínseca’ na Web”. Este termo “significa que os indivíduos devem registar-se para usar a Internet e as autoridades podem bloquear o acesso de um utilizador individual à Internet a qualquer momento. Em resumo, a Huawei está à procura de integrar os regimes de ‘crédito social‘, vigilância e censura da China na arquitectura da Internet”.

O “New IP”, explica a Just Security, “assenta numa base técnica com falhas que ameaça fragmentar a Internet numa confusão de redes menos interoperáveis, menos estáveis e ainda menos seguras. Para evitar o escrutínio das deficiências do ‘New IP’, a Huawei contornou os organismos de normas internacionais onde especialistas podem questionar as deficiências técnicas da proposta. Em vez disso, trabalhou através da UIT das Nações Unidas, onde Pequim tem mais influência política”, contornando assim a análise técnica mais válida da Internet Engineering Task Force (IETF).

Desta forma, o domínio chinês através da Huawei com o “New IP” e o 6G “não só criaria uma Internet menos livre e menos interoperável, mas também abriria caminho para que governos autoritários ganhassem mais voz sobre as mudanças futuras na Internet nos próximos anos”.