O modo de operação da polícia secreta soviética Okhrana pode ter enormes semelhanças com as novas redes sociais mas tem uma diferença abismal: agora, os vigiados são quem fornece informações e fotografias de onde estão ou do que fazem.

A Okhrana “foi a força policial secreta do Império Russo no final do século XIX e início do século XX. Foi um precursor da KGB, criada para proteger o czar de terroristas e revolucionários”.

Inovadora, usou técnicas de impressões digitais ou escutas telefónicas. Os agentes actuavam disfarçados e pretendiam desvendar “crimes políticos” antes de serem cometidos.

“Também adoptou a Big Data” ou, mais correctamente, “um precursor analógico da Big Data” para registar e compilar os detalhes da vida pessoal. “Tudo o que pudessem recolher por meio da vigilância e qualquer outro método era apresentado em diagramas complexos. O sujeito estava sentado no centro desse diagrama, com uma rede de linhas coloridas ilustrando as suas relações com outros. As linhas verdes indicavam alguém com quem o sujeito estava em contacto directo. Os círculos amarelos indicavam a família. As linhas castanhas ligavam a amigos e conhecidos. As linhas vermelhas indicavam as ligações políticas”.

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Estas bases de dados gráficas possibilitavam ver em formato visual as interligações entre pessoas – tal como sucede hoje, sendo o Facebook a empresa que aproveita ao máximo estas bases de dados gráficos.

O arquivo da Okhrana integra ficheiros, fotos e até alguns negativos de estúdios fotográficos que os entregavam à polícia. A Okhrana usava estas imagens de revolucionários importantes para as integrar em álbuns para uso como referência e materiais de formação e reconhecimento.

Foram registados muitos dos revolucionários russos mais procurados nas décadas anteriores à queda dos Romanovs em 1917. Em simultâneo, o arquivo “ilumina as estratégias de vigilância do governo czarista“, com delegações nos centros industriais de São Petersburgo, Moscovo e Varsóvia.

Se estes conjuntos de dados pessoais serviam na vigilância política para os czares, actualmente são utilizados para vender publicidade – embora possam ter impactos políticos: as Nações Unidas alertaram como o uso do Facebook teve um “papel determinante” na perseguição dos muçulmanos Rohingya em Myanmar.

Para contextualizar o impacto das redes sociais, o facto de entregar “documentos incendiários aos meios de comunicação social” ou “infiltrar-se em grupos activistas” foram apenas algumas das tácticas usadas pela desinformação soviética em 1983. Quando não existiam redes sociais.