Quase 60 operadores e empresas do sector audiovisual de 18 países europeus alertaram para o fim à vista da televisão digital terrestre (TDT) no seu modelo gratuito.
Unidos no “Call to Europe“, lançado no final de Junho, querem pressionar as entidades reguladoras a manter o espectro radioeléctrico na faixa 470-694 MHz (conhecida por sub-700 MHz) para a TDT.
O movimento apela a que não se mexa nesta faixa do espectro porque “toda a Europa precisa das bandas 470 aos 694 MHz para a transmissão da TDT e da cultura”.
Nenhuma entidade portuguesa se pronunciou ainda sobre o assunto.
A RTP não disse ainda nada, ao contrário da sua congénere espanhola. A RTVE alertou para o risco de desaparecimento do modelo gratuito da TDT no país e na Europa, situação que poderá ocorrer na conferência World Radio Communications de 2023 (WRC-23).
A antecipar essa conferência quadrianual, a reguladora Anacom aprovou a 13 de Setembro o lançamento de uma consulta pública ao plano estratégico do espectro (PEE), que decorre até 27 de Outubro, onde alerta que o operador Meo tem de decidir sobre a renovação da licença até Dezembro próximo.
Actualmente, os 262 emissores de TDT em Portugal transmitem sete canais: RTP 1, RTP 2, RTP 3, RTP Memória, SIC, TVI e Canal Parlamento. Cada região autónoma conta ainda com a emissão regional (RTP Açores e RTP Madeira).
No início de 2021, uma Resolução do Conselho de Ministros acrescentou a RTP África e um canal “destinado à divulgação científica e ao acesso ao conhecimento” mas essa situação não se concretizou.
Na resolução, o Governo considera que a TDT “desempenha um papel indispensável para a coesão e inclusão social” quando “subsistem importantes faixas populacionais que não acedem a televisão paga e para quem a televisão em sinal aberto é a principal fonte de acesso à informação e ao entretenimento”. Perante uma oferta de programas “residual”, era preciso inverter a situação para maximizar “o papel de relevante interesse público” da TDT.
A Anacom estima que a população que acede à TDT, tanto por via terrestre como por satélite (Direct To Home ou DTH), “não ultrapasse os cerca de 5%”.
Em paralelo, o Direito de Utilização de Frequências (DUF) é válido até 9 de Dezembro de 2023 e o seu detentor, a MEO, “já por diversas vezes afirmou publicamente que não decidiu se irá solicitar a renovação do DUF de que é titular” – o que terá de ser feito até 9 de Dezembro próximo.
Na referida conferência mundial de radiocomunicações, está agendada uma “reanálise da utilização da faixa 470-960 MHz”, que poderá ser adiada para a WRC-27.
Aparentemente, a posição europeia recomenda “que a faixa 470-694 MHz esteja disponível para TDT até, pelo menos, 2030”, diz a entidade reguladora.
Esta nota que a posição de Portugal na WRC-23 “não poderá ser dissociada do processo de renovação, ou não, do DUF actualmente em vigor para a TDT e da decisão que vier a ser tomada pelo Governo, sendo também importante evidenciar a eventual relevância deste espectro para outras utilizações num futuro mais ou menos próximo”.
No entanto, perante uma decisão do Governo em manter o modelo gratuito com a TDT, “seja o DUF da MEO renovado ou seja aberto um novo concurso, a acção da Anacom deverá centrar-se em defender que não haja uma alteração imediata na utilização da faixa 470-694 MHz”.
Se o Governo decidir que a televisão gratuita seja disponibilizada sem usar a referida faixa de frequências (por fibra óptica mais emissão por satélite ou apenas por satélite), a Anacom considera que deve defender o seu uso por outros serviços.
O manifesto do “Save Our Spectrum” apresenta uma outra razão para a defesa da situação actual, nomeadamente no país vizinho: “a radiodifusão terrestre é estratégica para um país, mais ainda no caso de Espanha dado que incrementa a resiliência sistémica e oferece redundância nas comunicações com os cidadãos. Em caso de desastre ou crise, a radiodifusão terrestre assegura o acesso da população à informação, se necessário durante dias e semanas. As transmissões de radiodifusão demonstraram ser as mais seguras perante os desastres naturais”.
[Act.: Altice pede renovação da licença da TDT: “A Altice Portugal confirma que já requereu junto das entidades competentes a renovação do direito de utilização de frequências TDT”, disse fonte oficial da telecom à Lusa, afirmação confirmada também pelo Dinheiro Vivo
Mesmo a televisão digital terrestre (TDT) é um tema que para a Media Capital “está morto”, ainda que a Altice mantenha o interesse.
INE: 88,2% das famílias portugueses tinha acesso à Internet em 2022: Entre as famílias portuguesas, a televisão por assinatura lidera entre os serviços relacionados com o pequeno ecrã: foi “referido por 87,9% do total de famílias e 80,4% das famílias com serviços integrados em pacote”, segundo o comunicado da autoridade estatística portuguesa. Já “38,6% das famílias têm apenas acesso à Televisão Digital Terrestre (TDT) na sua residência principal e 29,2% acumulam o serviço de televisão por subscrição com o acesso à TDT”. São “as famílias com crianças (95,5%) e nas famílias com maiores recursos (93,9%),” que assinam canais de televisão, ao passo que são as “famílias sem crianças (40,2%) e nas famílias com menores recursos (43,1%)” que têm TDT.
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A ser assim, está na altura de acabar com a taxa que nos cobram, todos os meses na fatura da eletricidade. Mesmo para quem desde que passaram a transmitir por TDT, deixou de ver televisão, tal como eu…
A taxa não é só para TV, também é para rádio. O problema da aplicação dessa taxa é que a lei (https://dre.pt/dre/detalhe/lei/30-2003-656106) prevê que “o financiamento público deve estar sujeito a um sistema de controlo que garanta a verificação do cumprimento das missões de serviço público” mas não me recordo – é falha minha… – de alguma vez ver relatórios sobre os resultados dessas missões.
Faz sentido. Mas de facto é pena o cidadão não ter conhecimento do resultado anual das auditorias externas.