A remoção de “actores indesejáveis” das redes sociais como medida de moderação de conteúdos – prática conhecida em inglês por “deplatforming” – tornou-se comum e diminui a disseminação de mensagens de personagens ou entidades de extrema-direita e das teorias da conspiração.

A conclusão é de dois investigadores da área do jornalismo, Adrian Rauchfleisch e Jonas Kaiser, respectivamente das universidades de Taiwan e de Harvard. No artigo publicado este mês “Deplatforming the far-right: An analysis of YouTube and BitChute“, eles mostram como esta prática de remoção de conteúdos e/ou de autores se generalizou em plataformas como o YouTube. O seu foco foi para os canais de extrema-direita para perceber o impacto neles de uma acção que, em português, se pode denominar de desplataformar, no sentido de remoção de uma plataforma.

Em 22 meses entre 2018 e 2019, o YouTube removeu 11,198 destes canais mas isso não significou o seu silêncio, dado que vários migraram para alternativas como a plataforma de vídeo BitChute. Mas estas remoções mostraram-se “eficazes para minimizar o alcance da desinformação e do discurso extremo, quando as plataformas alternativas que permitem este tipo de conteúdos não conseguem mitigar o efeito negativo de ser desplataformado do YouTube”.

A procura por soluções eficazes para combater a desinformação e as “fake news” e lidar com os seus problemáticos autores, normalmente no âmbito da moderação dos conteúdos (bastante criticada por motivos laborais em redes como o Facebook – apesar de várias incongruências – mas sem grandes alternativas tecnológicas, nomeadamente com as newsletters ou os podcasts), foi notória a partir da remoção de plataformas como o Facebook e o YouTube do autor de desinformação política de extrema-direita Alex Jones em 2018.

Três anos antes, o mesmo sucedeu com vários canais de extrema-direita no Reddit, o que gerou uma desagrável demissão de Ellen Pao, a CEO a quem denominaram de “Presidente Pao“. Alex Jones e o seu site Infowars foi um dos responsáveis pelos ataques à decisão de Pao. Seguiu-se a retirada do seu canal no YouTube e Jones alegou que esse afastamento o iria fortalecer. A ideia é que o mediatismo da decisão e a sua vitimização o podiam ajudar a captar novas audiências, para onde quer que ele levasse os seus conteúdos.

A vitimização é normalmente defendida por membros da extrema-direita como censura ou, como lhe chamou Jones, “censura ao estilo comunista”. Os autores notam que, quando o mesmo sucede com organizações islâmicas fundamentalistas ou certos países, a extrema-direita se cala.

Algo semelhante sucedeu com o ex-presidente Trump que, quando banido do Twitter e do Facebook, se queixou da remoção das “vozes conservadoras”. Mas não há provas disso ocorrer, embora o mesmo não se possa afirmar sobre o que lucram plataformas como o Facebook ou a Google com o “negócio” da extrema-direita e das “fake news”. Até há pouco tempo, a Google garantia 48% do “tráfego publicitário em notícias falsas“.

Por outro lado, como notam os autores do estudo, “o discurso extremo e a desinformação nos EUA estão frequentemente associados à extrema direita e assim coloca-a inerentemente no centro das atenções dos moderadores de conteúdos”, sem que exista enviesamento nessa moderação. “É frequentemente mais uma arma retórica para evitar o reconhecimento da disseminação da desinformação, racismo ou outro discurso extremo, do que uma análise precisa e honesta”, referem.

Além disso, o “deplatforming” não os silencia quando existem plataformas alternativas como o BitChute, que alegam publicar tudo para promoverem a liberdade de expressão. Foi para esta plataforma de vídeo que Jones migrou e chamou os seus apoiantes. Aliás, alguns investigadores advertem “que as medidas de desplataformizar podem ter consequências negativas não intencionais”, como aumentar a mediatização dos actores removidos.

No entanto, os autores notam que o sucesso destes está muito ligado às plataformas onde se expressam, nomeadamente o YouTube.

Na sua análise, eles consideram ainda que “os canais políticos são mais propensos a serem removidos devido ao discurso extremo”, enquanto os canais de música podem ser removidos por outras razões ligadas a direitos de autor. “Isto mostra que os motivos de remoção do YouTube não são arbitrários, mas seguem uma lógica intuitiva”.

Em segundo lugar, os canais de extrema direita removidos “não podem atingir os mesmos números de audiências e, inerentemente, de influência no BitChute como os que tinham no YouTube”.

Em terceiro, os números de visualizações no BitChute até podem aumentar após a saída do YouTube mas “apenas Alex Jones poderia manter esse aumento de curto prazo no BitChute ao longo do tempo e, mesmo assim, o número de visualizações não se pode comparar ao número de visualizações no YouTube”.

Por fim, os autores não descartam a potencial ligação entre o “deplatforming” e a censura de vozes indesejadas, questionando “se as plataformas privadas devem ter esse poder sobre a esfera pública em rede ou não”.