Foi também num domingo, a 13 de Junho de 1971, que o New York Times começou a publicar um conjunto de 7.000 documentos que ficou conhecido por Pentagon Papers, obtidos – mas não cedidos – pelo já falecido jornalista Neil Sheehan.
50 anos depois, Daniel Ellsberg (na foto), o responsável pela fuga de informação que ajudou a mudar a história da guerra no Vietname (e a vida do seu filho) tem uma outra motivação: ser acusado pelo governo norte-americano ao abrigo do Espionage Act de 1917.
No geral, este evento levanta algumas questões sobre o jornalismo de qualidade: este é tanto melhor quando os cidadãos se preocupam com a democracia e partilham o que sabem estar errado com quem pode amplificar a divulgação desses erros? E essa preocupação ainda existe, em países como Portugal, ou tem vindo a desaparecer? Se sim, porquê?
Recentemente, Ellsberg analisou algumas destas questões, recordando como o então presidente dos EUA, Richard Nixon, ficou “furioso” com a fuga de informação sobre uma “guerra sem razão“, que marcou o princípio do seu fim com o caso Watergate. Mas, segundo Ellsberg, “pouca coisa mudou nos últimos 50 anos”.
“A política externa dos EUA é amplamente conduzida como uma política imperial disfarçada e plausivelmente negada”, disse. “Negamos que somos um império e negamos os meios que usamos, os meios que cada império usa para manter a sua hegemonia – tortura, invasão paramilitar, assassinato. Este é o padrão para todos os que procuram uma influência global sobre os países e se envolvem na mudança de regime da maneira como o fazemos”.
Para Ellsberg, os jovens podem contrariar “as irregularidades do governo”, quando assinam acordos com os seus futuros patrões “sob os quais serão solicitados a não revelar quaisquer segredos de que tenham conhecimento no seu trabalho, eles devem ter em consideração que, na verdade, não têm o direito de manter essa promessa em todas as circunstâncias”, refere. “Podem surgir circunstâncias em que é errado guardar silêncio sobre informações que chegaram ao seu conhecimento porque outras vidas estão em jogo ou talvez a Constituição esteja a ser violada e é errado manter essa promessa”.
* Foto: Tommy Japan 79 (CC)