Como funciona uma agência de notícias? De onde obtém um jornal a informação?

Queremos saber o que está a acontecer ao nosso redor e porquê. O que não podemos ver por nós próprios, gostamos que nos digam: online, no jornal, no rádio e na televisão. É um longo caminho desde o evento real até a reportagem. Todos os dias, os jornalistas recebem inúmeras histórias, reportagens de correspondentes e comunicados de partidos, associações e empresas. A maioria das informações, no entanto, é fornecida por uma densa rede de agências de notícias globais. Elas recolhem, seleccionam e vendem informações para os media. Mas qual é o significado das agências de notícias?

Explicamos em seguida o caminho desde o evento à notícia.

Agências de notícias como guardiões
As agências de notícias fornecem aos jornais, revistas, rádios e outros meios de comunicação a informação em forma de reportagens pré-escritas sobre tópicos actuais. Elas fornecem reportagens actuais e rápidas sobre os eventos. Como guardiões [“gatekeepers”], elas também decidem quais dos muitos itens de notícias que chegam editam e encaminham e quais ficam de fora. Wolfgang Vyslozil, ex-director administrativo da maior agência de notícias austríaca, resume isso em poucas palavras: “as agências de notícias são instituições essenciais com grande importância para todos os sistemas de media. Elas são o centro nervoso invisível que liga todas as partes deste sistema”.

Quem é o dono das agências de notícias?
As agências de notícias podem ser organizadas de diferentes maneiras. Existem agências governamentais, privadas e públicas. A maioria está ligada em cooperação e contratos de partilha. Entre as cerca de 140 agências de notícias em todo o mundo, apenas 20 estão livres de influência governamental. Agências como a austríaca APA, a alemã dpa ou a francesa AFP são cooperativas e pertencem aos meios de comunicação do país. Mas não é sempre assim: a agência britânica Thomson-Reuters, por exemplo, é detida em 55% pela família canadiana Thomson. A AFP é um caso especial: os seus maiores clientes são os ministérios franceses. Eles geram 40% das vendas da agência.

[No caso da Agência Lusa, a estrutura accionista é liderada pelo Estado português (50,14%), Global Media Group (23,36%) e Impresa (22,35%), seguindo-se a NP – Notícias de Portugal, Público, RTP, O Primeiro de Janeiro e a Empresa do Diário do Minho.]

E as notícias internacionais?
As notícias de outros países que chegam aos jornais, rádios e TV como histórias actuais dependem de vários factores. Em primeiro lugar, é claro, alguém pode pesquisar sozinho. As agências de notícias e os jornais podem empregar correspondentes em diferentes países para relatar o que está a acontecer lá. O único problema: muitos media não têm correspondentes estrangeiros próprios e não têm outra opção a não ser contar com as grandes agências globais para as notícias internacionais. Embora essas agências geralmente tenham vários milhares de funcionários, a maioria dos jornais tem apenas alguns correspondentes.

Agências ocidentais dominam o mercado
É um longo caminho desde o incidente até à sua publicação no jornal, mas tudo ocorre muito rapidamente. O que está a acontecer no mundo está no jornal apenas algumas horas depois ou no ecrã da TV alguns minutos depois. Na realidade, porém, a maioria das notícias internacionais no mundo ocidental vem de três grandes agências de notícias globais: a American Associated Press (AP), a Thomson-Reuters de Nova Iorque/Toronto e a Agence France-Presse (AFP) de Paris. A mais importante agência de notícias do mundo financeiro também tem sede em Nova Iorque: a Bloomberg. O seu dono é o bilionário e ex-presidente da cidade, Michael Bloomberg. Essas agências ocidentais são líderes de mercado.

A agência de notícias estatal chinesa Xinhua, a russa Rossija Sewodnja e a Al Jazeera sediada no Catar diferem nas suas ofertas mas desempenham um papel menor no mercado. A agência de notícias russa TASS é também uma das maiores agências de notícias do mundo. É uma empresa estatal, cujo dono é o governo russo.

Cooperações, correspondentes e “cópia e cola”
Para as agências mais pequenas, nacionais, não é possível ter uma rede mundial de correspondentes. É por isso que existem cooperações com outras agências pequenas e globais, a fim de obter acesso às notícias internacionais e manter a sua media nacional informada sobre os acontecimentos mundiais. Na verdade, em muitos casos, a colaboração vai muito além da mera cooperação. Por exemplo, a dpa tem um contrato exclusivo com a AP. Portanto, na maioria das vezes, a sua cobertura internacional é apenas uma tradução das notícias da AP publicadas nos Estados Unidos.

Países da OTAN, notícias da OTAN?
Esta dependência das agências globais também tem efeitos colaterais. A reportagem internacional é caracterizada por uma certa semelhança devido à prática de copiar. As grandes agências de notícias estão todas localizadas no mundo ocidental, intimamente ligadas e, portanto, detêm uma posição de monopólio. De Washington a Paris ou a Berlim, a redacção é adoptada. Isso significa que eventos internacionais são relatados mais ou menos da mesma forma em todo o mundo.

Para colocar isto do ponto de vista da agência: qualquer pessoa que faça reportagens na Bloomberg, por exemplo, sobre protestos contra o dono da agência de notícias, provavelmente é muito cauteloso. Um efeito semelhante ocorre no caso de conflitos militares ou económicos envolvendo interesses ocidentais. Isso resulta inevitavelmente num leve enviesamento geopolítico. Na dúvida, as agências de notícias dos países da OTAN, por exemplo, têm a oportunidade de influenciar as notícias a seu favor.

Como se reconhecem as notícias de agência?
Podem-se identificar as mensagens das agências por uma pequena abreviatura como AFP, geralmente no final de um artigo. Fotos e vídeos também são identificados dessa forma. Às vezes, o nome ou a abreviatura de quem editou a notícia da agência também pode constar. No entanto, existem muitos meios de comunicação que não indicam as suas fontes. Na rádio e na televisão, por exemplo, mas também na imprensa. Jornais gratuitos e tablóides, em particular, costumam lidar com o material de agência de forma não transparente. Como leitor, muitas vezes não se sabe quais os artigos originados do seu próprio trabalho editorial e quais são parcial ou totalmente retirados de agências.

Abreviatura pequena, grande responsabilidade
As principais agências de notícias canalizam fluxos de notícias em todo o mundo, algumas já o fazem há mais de 170 anos. Elas são as primeiras empresas globais de media do mundo e tornaram-se a força motriz da globalização. Apesar da sua imensa importância para a informação diária do mundo, no entanto, elas desaparecem do nosso quotidiano por trás das suas abreviaturas à margem da reportagem da imprensa e do rádio. Não devemos subestimar a sua influência, como aponta o historiador Volker Barth: “as agências de notícias estruturam a percepção do mundo e determinam como as pessoas vivenciam o meio ambiente. As agências de notícias seleccionam, classificam e editam as informações e, assim, decidem qual o evento local que recebe atenção global ou se torna um evento global”.

* Texto original de Stefanie Hackl publicado pela Scoop.me. Imagem: Scoop/Felix Hagmaier.