Anúncios nos meios de comunicação social convidam os investigadores a acrescentarem a sua assinatura a uma investigação por um montante que vai de algumas centenas a alguns milhares de dólares. Não se sabe quantos estão suficientemente desesperados para terem aberto as suas carteiras, mas pelo menos três revistas retiraram, em 2022, artigos “suspeitos” dos seus arquivos.
As pessoas que descobriram este “negócio”, a economista alemã Anna Abalkina e o engenheiro britânico Nick Wise, publicaram os resultados das suas primeiras “descobertas” em Dezembro de 2021 no servidor de pré-publicação ArXiv: identificaram mais de 1.000 anúncios, alguns publicados nos websites destas empresas, em grande parte localizados na Rússia e na Europa de Leste, e outros nas redes sociais, principalmente Facebook e Telegram.
A mais visível das empresas, a International Publisher LLC, localizada na Rússia, tem sido descrita desde 2019 como uma “fábrica de artigos” que fornece uma série de serviços fraudulentos a académicos dispostos a fazer tudo para que o seu nome seja publicado algures, incluindo a escrita por autores-fantasma (“ghostwriting”) e a “falsificação de dados”, de acordo com a Retraction Watch.
Entrevistados recentemente pela Nature, Abalkina e Wise dizem ter desde então associado 460 artigos científicos a ofertas nos anúncios. Duas revistas e uma editora são nomeadas pela Nature como tendo admitido retirar estes artigos dos seus arquivos logo que surgiram suspeitas. Nalguns casos, a prova foi fácil de fazer: os anúncios dão especificamente o título do artigo e onde ele aparecerá, convidando o leitor a acrescentar a sua assinatura mediante o pagamento de uma taxa. Uma vez que alguns destes artigos apareceram em revistas com “peer review” (revisão por pares), isto significa que “novos signatários” foram acrescentados à lista depois de o artigo ter sido aceite para publicação. Por outras palavras, não há qualquer indicação de que o artigo em si seja fraudulento: mas a possibilidade de um signatário ter “comprado” o seu espaço é inaceitável para a maioria dos editores sérios.
O próprio facto de estas “fábricas de artigos” existirem é outra ilustração da pressão para publicar que pesa sobre os investigadores, em detrimento de tudo o resto, e do facto de as oportunidades para publicar serem mais escassas nalguns países. “É pago, e é gerido por grupos cada vez mais organizados”, diz Deborah Kahn, administradora do Committee on Publication Ethics do Reino Unido, à Nature.
Por Agence Science-Presse. Imagem da Retraction Watch.