O que têm em comum as criptomoedas, Elon Musk, Meta e Alexa? Quatro momentos em que o optimismo exagerado em relação aos “génios” da tecnologia teve a sua quota em 2022.
Quer se acredite ou não no futuro das criptomoedas, pode-se pelo menos concordar que ainda não conseguiram provar a sua capacidade de transformar em dinossauros os grandes bancos e o controlo governamental sobre o sistema financeiro. Mas a fé que alguns tinham em Sam Bankman-Fried, o fundador da agora extinta FTX, foi muito além desta crença na reforma político-financeira: era uma fé cega num jovem empresário, só porque ele deu a impressão de ter um discurso rebelde. Um “bilionário do povo”, ironiza o autor e ensaísta americano Anand Giridharadas.
“A verdadeira questão”, escreveu o economista Paul Krugman no New York Times a 1 de Dezembro, “é a razão pela qual tantas pessoas – não apenas pequenos investidores ingénuos, mas grandes empresários – compraram a crença de que esta má ideia seria o caminho para o futuro”.
A ideologia política desempenhou certamente um papel: a desconfiança perante as elites financeiras e o desejo de se verem livres das “grilhetas” do governo. O que Sean O’Connor, professor de direito da Universidade George Mason, chama de “tecno-libertarianismo“.
Mas há também um “romance de alta tecnologia”, queixa-se Krugman: o simples facto de a conversa da criptomoeda ser incompreensível… pareceu, a alguns, ser uma garantia de credibilidade.
O tecno-libertarianismo também está em acção na retórica de Elon Musk no Twitter: a crença de que a liberdade de expressão livre de “grilhões” é o caminho para um futuro perfeito. Tal como o romance com a alta tecnologia: eis um empresário que ficou muito rico com a Tesla e a SpaceX, por isso tem de se acreditar nele quando dirige outra empresa tecnológica, certo?
Em vez disso, o choque causado pelo caos que ele criou no Twitter poderia prestar um grande serviço à sociedade, escreve Anand Giridharadas: “desfazer o mito do génio bilionário”.
“O culto do empresário genial desempenhou um grande papel no desastre que é a cripto”, escreveu Paul Krugman a 19 de Dezembro. “Sam Bankman-Fried da FTX não estava a vender um produto real. Nem, tanto quanto podemos dizer, os seus antigos concorrentes que ainda não entraram em bancarrota: após todo este tempo, ninguém conseguiu uma utilização real e significativa das criptomoedas… O que Bankman-Fried vendia era mais uma imagem, a de um visionário desgrenhado e mal vestido que sabia ver o futuro”.
Duas outras revoluções tecnológicas colocadas em dúvida em 2022:
- A Alexa, a “assistente de voz” da Amazon, nascida em 2014, que poderá desaparecer juntamente com os 10 mil funcionários recentemente despedidos. A esperança dea ver tornar-se a interface entre os consumidores e a Amazon nunca se materializou, sendo uma das suas maiores utilizações dar a meteorologia.
- O metaverso, no qual a empresa Facebook (Meta desde 2021) investiu milhões. É demasiado cedo para traçar uma linha, mas a ideia de um mundo virtual não reuniu tantas pessoas como se esperava. Entretanto, a Meta anunciou neste Outono que estava a despedir 11 mil pessoas, os primeiros despedimentos importantes na história da plataforma.
Por Pascal Lapointe (Agence Science-Presse).