Existe uma linguagem comum às teorias da conspiração, que permitiria detectá-las? Isto é o que um estudo recente sugere: os textos baseados nestas teorias são mais interligados e mais semelhantes uns aos outros.

Definições gerais do  que é uma teoria da conspiração existem  há muito tempo: presume-se a existência de um grande grupo de pessoas que agem nas sombras, mas é um grupo cujos contornos nunca podem ser claramente delineados, e sobre os quais nunca há qualquer prova; ao contrário de uma verdadeira conspiração, para a qual temos testemunhos,  documentos, ou mesmo pessoas que foram condenadas em tribunal.

No entanto, continua a ser uma definição muito geral, o que não facilita a identificação de uma tal teoria, pelo menos não através da leitura de um texto simples. Três investigadores da Universidade de Neuchâtel, na Suíça, e da Universidade de Warwick, em Inglaterra, questionaram-se se uma análise linguística revelaria pontos comuns. O resultado: os textos em questão estão mais interligados e são mais heterogéneos do que os textos considerados fiáveis, que se baseiam em fontes.

“Interligados” significa que cada uma destas teorias da conspiração está ligada a outra que está relacionada com outra — ao ponto de os seus autores dependerem frequentemente de uma segunda teoria para “provar” a sua teoria. E “heterogéneo” é uma consequência desta interconexão: uma vez que estas teorias são muito díspares, há inevitavelmente uma falta de coerência. Por exemplo, alguém que acredita que a indústria farmacêutica criou o vírus Covid para vender vacinas também pode acreditar que o 5G é responsável pelo vírus, mesmo que as duas ideias se contradigam.

O que importa, escrevem os investigadores, é a “visão do mundo da conspiração” que está em segundo plano. Mesmo se os detalhes não forem coerentes.

O facto de as teorias da conspiração estarem interligadas não é, por si só, uma descoberta: durante pelo menos 10 anos, estudos em psicologia apontaram que uma pessoa que acredita numa teoria como esta é mais provável que acredite numa segunda ou mesmo numa terceira teoria. Transposto para uma análise linguística, isto revela a falta de coerência entre estes diferentes textos, mas paradoxalmente, o léxico comum que usam.

Estes investigadores não são os primeiros a apontar as contradições. Um estudo de 2012 observou, entre outras coisas, que entre os americanos que acreditavam que Osama bin Laden já estava morto quando os soldados chegaram a sua casa em Maio de 2011, muitos desses mesmos americanos estavam inclinados a acreditar que ele ainda estava vivo após os soldados partirem.

No entanto, de acordo com o psicólogo britânico e co-autor do novo estudo, Thomas Hills, é a primeira investigação a analisar a  linguagem da conspiração em tão grande escala – o seu corpus  de textos, constituído em 2021 e  chamado  de linguagem de conspiração  (LOCO, de “language of conspiracy”), inclui cerca de 100 mil textos, um quarto rotulado de “teóricos da conspiração” e três quartos “teóricos da não-conspiração”.

Os três autores vêem-na como uma porta aberta para a possibilidade de que um algoritmo possa, um dia, “detetar” num texto a “impressão” de uma teoria da conspiração. A análise foi publicada a 26 de Outubro na revista Science Advances.

Por Agence Science-Presse