Nas The Reith Lectures (BBC), [a filósofa] Onora O’Neill oferece uma crítica curta, mas mordaz, à transparência. As pessoas pensam que confiança e transparência andam juntas, mas na realidade, diz O’Neill, elas opõem-se profundamente. A transparência força as pessoas a esconderem as suas reais razões de acção e a inventar outras diferentes para consumo público. A transparência força o engano. Eu trabalho nos detalhes do seu argumento e pioro a sua conclusão. Foco-me na transparência pública – ou seja, transparência para o público sobre domínios de especialistas. Apresento duas versões da crítica. Primeiro, o argumento da intrusão epistémica: o impulso para a transparência força os especialistas a explicarem o seu raciocínio a não-especialistas. Mas as razões dos especialistas são, pela sua natureza, muitas vezes inacessíveis a não-especialistas. Portanto, a procura pela transparência pode pressionar os especialistas a agirem apenas de maneiras em que podem oferecer justificações públicas. Em segundo , o argumento das razões íntimas: em muitos casos de deliberação prática, as razões relevantes são íntimas de uma comunidade e não são facilmente explicáveis para aqueles que não têm um histórico partilhado em particular. A procura por transparência, então, pressiona os membros da comunidade a abandonarem a compreensão e a sensibilidade especiais que surgem das suas experiências particulares. A transparência, parece, é uma forma de vigilância. Ao forçar o raciocínio na esfera explícita e pública, a transparência erradica a corrupção – mas também inibe a aplicação completa da capacidade especializada, sensibilidade e entendimentos subtis partilhados. Precisamos de confiança e de transparência, mas elas estão numa tensão essencial. Isto é um profundo dilema prático; não admite uma resolução clara, mas apenas um doloroso compromisso.
[Traduzido da descrição do vídeo.]