A Uber estimulou a divulgação de actos violentos dos taxistas “como forma de promover a imagem da empresa e conseguir cedências por parte de governos“.

A estratégia foi seguida em Portugal e noutros países, revelam os Uber Files, uma investigação divulgada este domingo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ).

Em Portugal, a empresa chegou a propor a investigação do passado de um responsável do sector dos táxis, para a revelar junto dos media.

Este tipo de medidas foi alegadamente apoiado pelo CEO da empresa, Travis Kalanick, e incluíam o confronto – mesmo físico – entre motoristas da Uber e de táxis, para estimular uma “narrativa da violência“, porque “a violência garante sucesso“.

Um porta-voz do agora ex-CEO afirmou que “as declarações estão fora de contexto”, equanto actuais responsáveis da empresa se mostraram “revoltados com estas práticas”.

Os documentos do ICIJ mostram que a Uber contornou leis e influenciou governos para obter uma posição predominante num mercado onde introduziu desvantagens mas também benefícios.

Ao nível político, Joe Biden, Olaf Scholz e George Osborne foram alguns dos contactados, enquanto Emmanuel Macron chegou “secretamente” a ajudar o lobby da Uber em França. A empresa adoptou ainda um “kill switch” em investigações para impedir as autoridades policiais de verem os dados da empresa.

O novo director-geral da Uber Portugal recordou recentemente que entre 2013 e 2019, o sector agregado das plataformas de transporte em veículos descaracterizados (TVDE) e dos táxis] “cresceu 71% em número de empresas, criou sete mil empregos novos (mais de 51%) e o volume de negócios aumentou 84%, atrelando a isso um aumento de 43% na receita fiscal“.

No entanto, a empresa está a ser investigada pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes e pelo Instituto da Mobilidade e Transportes, devido à classificação dada aos utilizadores. Esta prática é proibida na legislação dos TVDE.

O director-geral Francisco Vilaça vê o carro particular como o seu “principal concorrente”, não o táxi. “E o que queremos é trazer soluções para as pessoas dependerem cada vez menos dessa opção”.

Esta não será uma opção fácil, quando a população urbana está a adoptar as cidades sem carros, obtendo “menores emissões carbónicas, menos poluição do ar e menos acidentes de tráfego“.

No lado da política municipal, aposta-se em cenários de criação de cidades “gémeas digitais” (“digital twin“) para o planeamento urbano, baseados em dados e não em desejos de políticas de circunstância.

Act.: The Uber whistleblower: I’m exposing a system that sold people a lie

These revelations reveal the political credulity and negligence that has surrounded the growing power of Silicon ValleyUber’s San Francisco-based chief executive, Travis Kalanick, had ordered the computer systems in Amsterdam cut off from Uber’s internal network, making data inaccessible to authorities as they raided its European headquarters, documents show.