Ao discursar num evento sobre mudanças climáticas na Dinamarca em 2009, o ex-vice-presidente Al Gore fez uma declaração alarmante.
Citando investigação de Wieslaw Maslowski, professor de oceanografia da Naval Postgraduate School na Califórnia (EUA), Gore disse ser provável que as calotes polares do norte se iriam derreter completamente.
“Estes números são recentes”, disse Gore. “Alguns dos modelos sugerem a Maslowski que há 75% de possibilidade de que toda a calote polar norte, durante os meses do Verão, possa estar completamente livre de gelo entre cinco a sete anos”.
No seu documentário de 2006, “Uma Verdade Inconveniente“, Gore citou estudos que diziam que “nos próximos 50 a 70 anos” as calotes polares estariam completamente derretidas. O que fez com que esse fenómeno aumentasse de repente por um factor de dez? Nada. Como notou a NPR, Gore estava a deturpar os dados de Maslowski.
“Não é claro para mim como estes números foram obtidos”, disse Maslowski ao inglês The Times. “Eu nunca tentaria estimar a probabilidade de algo tão exacto quanto isso”.
O escritório de Gore divulgou imediatamente um comunicado dizendo que o número de 75% era um “número aproximado” que Maslowski tinha usado numa conversa casual com Gore vários anos antes.
Felizmente, tanto Gore quanto Maslowski estavam errados.
Em 2021, a extensão do gelo do Ártico era de 4,72 milhões de quilómetros quadrados, cerca de 11% a mais do que os 4,16 milhões de quilómetros quadrados de 2007, segundo estimativas da NASA.
Esticando a verdade
Como a Reuters mostrou numa verificação de factos recente, Gore foi culpado de deturpar dados científicos – ou “difundir desinformação”.
Em 2009, muitos responderam com brincadeiras às gafes de Gore.
“Como a maioria dos políticos, em exercício e reformados, Al Gore é conhecido por esticar a verdade de vez em quando”, observou a NPR, acrescentando que Gore também afirmou ter ajudado a criar a Internet.
Hoje, a desinformação é tratada de uma maneira muito diferente – pelo menos nalguns casos. Ao longo da pandemia da Covid-19, muitos escritores e cientistas que questionaram o uso do confinamento pelo governo, obrigação de uso das máscaras, distanciamento social imposto e vacinas obrigatórias foram banidos das plataformas de media social, enquanto outros perderam os seus empregos.
No início de Março, o advogado de São Francisco, Michael Senger, foi banido definitivamente do Twitter após denominar a resposta do governo à pandemia de “uma gigante fraude”. Em Agosto, foi o ex-repórter do New York Times, Alex Berenson, a ser expulso depois de questionar a eficácia das vacinas na prevenção da transmissão da Covid-19. Meses antes, foi a autora Naomi Wolf, conselheira política das campanhas presidenciais de Bill Clinton e de Al Gore.
O Twitter não está sozinho, é claro. O Facebook e o YouTube também anunciaram políticas que proíbem a disseminação de desinformação sobre a Covid, principalmente informações relacionadas com as vacinas, o que levou os médicos Peter McCullough e Robert Malone a serem condenados ao ostracismo e banidos.
Alguns podem argumentar que estas políticas são vitais, pois protegem os leitores de informação falsa. No entanto, não há nada que diga que a Big Tech só pode proibir informações que sejam falsas. Pelo contrário, em processos judiciais, o Twitter alegou que tem “o direito de banir qualquer utilizador em qualquer momento por qualquer motivo” e pode discriminar “com base em religião, ou género, ou preferência sexual, ou deficiência física ou deficiência mental”.
Entretanto, o Facebook argumentou em tribunal que o exército de verificadores de factos que emprega para proteger os leitores de informações falsas estão apenas a partilhar “opiniões” e, portanto, estão isentos de alegações de difamação.
“A liberdade de comunicação é indispensável”
O que a Big Tech está a fazer é preocupante, mas o facto dessa censura estar a ocorrer em coordenação com o governo federal faz com que seja duplamente preocupante.
Em Julho, no discurso claramente mais anti-liberdade de expressão feito na Casa Branca na história moderna, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, observou que esta está a “sinalizar textos problemáticos ao Facebook”.
“Estamos em contacto regular com essas plataformas de media social, e esses compromissos geralmente acontecem por meio de membros da nossa equipa sénior, mas também por membros da nossa equipa Covid-19”, explicou Psaki.
Tudo isto está a ser feito em nome da ciência, mas sejamos claros: não há nada de científico na censura.
Para reconstruir [a confiança no futuro da ciência perante a censura generalizada, que corroeu a fé na ciência], deve-se lembrar que a censura é sobre poder, não ciência, e relembrar a sabedoria de um dos maiores cientistas da história: Albert Einstein.
“[A] liberdade de comunicação é indispensável para o desenvolvimento e extensão do conhecimento científico… deve ser garantida por lei”, escreveu Einstein num ensaio de 1940 sobre liberdade e ciência. “Mas as leis sozinhas não podem garantir a liberdade de expressão; para que cada homem possa apresentar os seus pontos de vista sem penalização, deve haver um espírito de tolerância em toda a população”.
Este espírito de tolerância está a faltar hoje e deve ser restaurado. Cientistas e funcionários públicos cometerão erros – basta perguntar a Al Gore -, mas expurgar ideias da praça pública é um sinal de uma sociedade dogmática, não científica.
Artigo de Jon Miltimore, publicado no FEE Stories (CC).