Aprender a programar mudou a vida de Baratang Miya. Ela é a fundadora e directora da GirlHype, uma organização sem fins lucrativos que capacita jovens e raparigas desfavorecidas a ligarem-se ao mundo digital, aprenderem a escrever código e a ter uma carreira profissional na tecnologia.

Na sua mensagem ao Fórum de Governança da Internet das Nações Unidas, em Dezembro, Miya disse que as mulheres devem ser incluídas na governança da Internet para garantir que meninas e mulheres não são deixadas para trás.

Porquê focar-se na tecnologia? O que pode a programação oferecer a raparigas e mulheres que outros campos não podem?
Aprende-se a resolver problemas… e isso aumenta a tenacidade e a resiliência das raparigas. Elas aprendem a programar e a definir conteúdo, não se consegue isso em mais nenhum outro lado. Elas vivem nesses ambientes onde os problemas existem, e os problemas criam oportunidades. Alguém olha e diz que “há muitos problemas em África”. Estou a olhar para isso e a sentir como “uau, tantas oportunidades em África e elas precisam de ser resolvidas”.

Uma jovem formada que se destacou é uma garota de Khayelitsha, uma pequena cidade na África do Sul. Ela veio da pobreza. Ela aprendeu HTML, CSS, passou para Python e o Java tornou-se a sua melhor linguagem. Ela saiu directamente do ensino secundário aos 18 anos para trabalhar na Microsoft como estagiária. Em dois anos, ela estava a morar num dos subúrbios da África do Sul. Vê-la mudar a vida de toda a sua família foi impressionante.

Você escolhe jovens de comunidades sub-representadas para participarem nos seus programas. O que há de especial nessas raparigas? E o que elas – especialmente aquelas com diversas origens – podem dar à tecnologia?
A programação é uma linguagem falada por um computador. Acho que o presidente [Nelson] Mandela disse: “Se quer que alguém se ligue a si, fale na sua língua materna”. Essas jovens, o que elas trazem para a tecnologia, especialmente na inteligência artificial (IA), é o elemento humano da IA. Essas raparigas estão a trazer uma mentalidade diferente.

Actualmente, são principalmente homens em Silicon Valley a decidir como a IA será – imagine se uma garota africana decidisse quais as questões a serem abordadas. As mulheres africanas irão ser parte dessa tecnologia.

Como entrou na programação? E onde isso a levou na sua carreira?
Eu estava sentada numa “Internet shop” e alguém decidiu: “Vou-te ensinar a programar numa hora”. Porquê? Porque eu estava a ensinar meninas a usarem computadores.

O GirlHype faz 20 anos no ano que vem… Comecei este programa porque não podia usar um computador quando cheguei à universidade.

Isto mudou a minha vida para um nível que eu nunca poderia ter sonhado. Levou-me ao nível político para falar em plataformas como as Nações Unidas. Acabei de voltar da ONU, em Dezembro, falando como um dos membros do painel de alto nível do Fórum de Governança da Internet. Tenho andado para cima e para baixo, a falar na União Africana, defendendo mulheres e meninas. Fui escolhida como uma das premiadas do programa TechWomen do Departamento de Estado dos EUA e passei seis semanas em Silicon Valley sendo orientada por mulheres lá. Estas coisas que tenho, foi apenas por ter aprendido a programar. Tem sido incrível.

Quais são as suas grandes visões e objectivos? E o que vem a seguir para as mulheres na tecnologia em África?
Eu gosto da governança da Internet. Falar ao nível de políticas é o que eu gosto e defender os direitos das mulheres e das raparigas. A governança da Internet deve ser de baixo para cima, as partes interessadas – que somos todos nós, incluindo mulheres e raparigas – devem fazer parte dessa tomada de decisão. Precisamos de mais mulheres a participar.

Os países devem ser deixados sozinhos para fazer o que está certo para eles no seu contexto, mas a Internet não deve ser usada pelos países para oprimir outras pessoas e deixar as mulheres para trás. Já é hora de a ONU assumir a liderança em termos de garantir que ninguém é deixado para trás, especialmente mulheres e meninas.

* Texto de Halima Athumani, republicado da SciDev.Net (CC). Foto: CodeGirl.