O músico Neil Young anunciou no final de Janeiro que não queria a sua música distribuída no Spotify por este serviço de streaming se ter tornado um pólo de desinformação sobre a Covid, em que “mentiras são vendidas por dinheiro”.

O cantor assumiu esta posição apesar de reconhecer que os direitos não lhe pertencem na totalidade. 50% dos direitos sobre 1.180 músicas foram vendidos no início de 2021 por cerca de 150 milhões de dólares à empresa de investimentos Hipgnosis Songs Fund.

O Spotify cumpriu o pedido, apesar de compilações com a música do autor canadiano ou da banda Crosby, Stills, Nash & Young (CSN&Y) continuarem disponíveis.

A cantora Joni Mitchell apoiou a iniciativa de Young e os três membros da antiga banda também.

Não é a primeira vez que Neil Young toma uma posição sobre a pandemia. Em Abril de 2020, pronunciou-se contra os políticos que não usavam máscara e que não iria tocar em concertos ao vivo para “um grupo de pessoas sem máscara” até a pandemia estar terminada.

Mas qual é o impacto real para a empresa sueca deste empenho activista de artistas do seu catálogo? A empresa aproveitou para divulgar as suas novas regras da plataforma relacionadas com a pandemia.

Já o impacto financeiro poderá afectar Young, embora outras plataformas já tenham aproveitado a publicidade da saída do Spotify para promover Young e o seu novo disco.

Na realidade, quem mais poderá ter ganho com o caso foi o podcaster Joe Rogan, contra quem Young e outros se insurgiram por o Spotify albergar as suas emissões.

Em geral, os mais frequentes boicotes não tendem a penalizar as plataformas tecnológicas a médio e longo prazo, dando-lhes pelo contrário alguma publicidade gratuita. Neste caso, as suas acções valorizaram 13% após o fim de semana quando Rogan revelou que iria cumprir as novas regras do Spotify.

Boicotes anteriores, aparentemente muito radicais mas que se esfumaram ao longo dos meses, ocorreram com alguns anunciantes publicitários ao Facebook em Junho de 2020. “O público e a media, segundo os dados das tendências do Google, rapidamente seguiram em frente”. Algo semelhante ocorreu com o YouTube em 2017 ou com o Netflix também em 2020 e com a Amazon no ano passado.

Em vários desses casos, os boicotes serviram apenas para as empresas ajustarem as suas regras. No lado dos boicotes de teor político, sucede o mesmo, descobriram investigadores nos EUA.

Em “Spilling the Beans on Political Consumerism: Do Social Media Boycotts and Buycotts Translate to Real Sales Impact?“, eles notam como a pressão dos consumidores sobre as marcas não é linear: um boicote pode até aumentar as vendas. Foi o que sucedeu à marca latina de comida Goya quando o seu CEO demonstrou publicamente o apoio ao presidente republicano Trump, em Julho de 2020.

O “buycott” teve um impacto significativo nas redes sociais mas reduzido nas vendas dos produtos da marca, que aumentaram temporariamente em 22%. Passadas três semanas, esse crescimento “dissipou-se totalmente”.

No entretanto, o que sucedeu foi um aumento das vendas em condados republicanos sem uma equivalência semelhante no boicote das regiões democratas. Mesmo a população latina, consumidora preferencial dos produtos Goya, “não exibiu um comportamento detectável de boicote”, ao contrário da população negra.

Os investigadores evitam generalizar as atitudes para outras empresas, marcas e produtos a partir de um único caso de estudo mas confortam desta forma os gestores que tomam posições políticas em público.