Em 2022, as tecnologias emergentes vão mudar a forma como os utilizadores encontram e consomem as notícias. A confluência de novos algoritmos de pesquisa baseados em modelos de linguagem natural e a adopção de dispositivos vestíveis (“wearables”) pelo consumidor desafiará a estabilidade dos modelos de receitas dos leitores porque se trabalhou tanto para desenvolver nos últimos anos.
Se o próximo ponto de inflexão representa uma ameaça existencial ou uma oportunidade de crescimento, depende de como a indústria responder.
Durante a pandemia, celebraram-se as vitórias que as organizações de notícias alcançaram com o amadurecimento das suas estratégias de assinaturas e filiação (“membership”). Esse sucesso foi impulsionado por um aumento na procura por informação fiável num tempo extremamente incerto e tácticas cada vez mais sofisticadas para activar “paywalls” e mensagens de marketing.
Mas, apesar dessa concentração em optimizar os fluxos de assinaturas, o cenário tecnológico e económico mudou. Durante o Verão, investigadores da Google publicaram um artigo apresentando uma visão para um novo tipo de motor de busca. Em vez de entregar aos utilizadores uma lista de links em resposta à sua pesquisa, um modelo de linguagem natural resume directamente as informações de várias fontes na Internet.
Isso alinha-se com uma mudança mais ampla na forma como os utilizadores procuram informação. Mais de 40% dos utilizadores da Internet em todo o mundo dizem usar a pesquisa por voz – utilizada em assistentes de IA ou como um recurso em mecanismos de buscas baseados no browser. Isso sugere que os consumidores estão a ficar mais confortáveis ao interagir com os seus dispositivos ditando comandos (e ouvindo os resultados).
Enquanto se discute como as interfaces de pesquisa em linguagem natural irão mudar o que sabemos sobre estratégias de audiências, também é preciso preparar-se para um mundo onde os utilizadores cada vez mais consomem notícias em dispositivos “wearables”.
A evidência diz-nos que essas tendências continuarão em 2022. Os utilizadores vão passar mais tempo com dispositivos sem ecrãs.
Eles vão obter informações directamente de assistentes de IA que podem resumir informações sem enviar o utilizador para um site de notícias. A questão para os media é: o que vão fazer a respeito disso?
Como se vão financiar as redacções se os hábitos de navegação dos utilizadores mudarem e eles não acederem aos acessos pagos como fazem hoje? Qual é o valor das notícias se os utilizadores se envolvem com dispositivos que fornecem ininterruptamente um fluxo de informações? Como mudará o valor das notícias se os utilizadores passarem mais tempo em plataformas digitais imersivas que gravam as suas interações automaticamente?
Em 2022, as redacções podem parar para pensar onde há oportunidade de crescer no meio desta incerteza. Agora é o momento de pensar sobre que tipo de capacidades são precisas na redacção e no lado dos negócios para se manterem competitivos. Este é o tempo de criar parcerias, desenvolver novos produtos e reconsiderar como o jornalismo cria valor.
Sim, as notícias são essenciais. Sim, os produtos noticiosos agregam um enorme valor às comunidades em que operam. Mas as notícias são apenas um dos muitos serviços que os consumidores assinam. Ser essencial para a democracia é óptimo, mas é preciso fornecer um produto em que as pessoas invistam. A menos que se construa um futuro para as organizações de media, não há garantia de sobrevivência.
Artigo original de Sam Guzik/Nieman Journalism Lab (CC BY-NC-SA 3.0 US). Foto: Robert Couse-Baker (CC BY 2.0).