As críticas aos chamados Pandora Papers – divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) e publicados em Portugal pelo Expresso – visaram a sua forma e conteúdos.
No primeiro caso, considera-se que dois anos é muito tempo para analisar mais de 11 milhões de documentos, estabelecer relações entre documentos e entidades individuais ou corporativas e validar o que havia a confirmar antes de ser publicado.
Emergiu também alguma confusão sobre a criação de offshores, que é algo perfeitamente legal embora possa ser indesejável, o que levou uma elite europeia – e não só – a esconder que o tinha feito e a Transparência Internacional a pedir uma análise ao “submundo da indústria das offshore“. Segundo esta organização, os Papers envolvem mais de “300 políticos de 90 países – incluindo 35 antigos ou actuais líderes governamentais”.
No entanto, como escrevem dois professores da University of Technology Sydney (Austrália), “considere-se, por exemplo, o caso da bilionária actriz e cantora chinesa Zhao Wei, que em Agosto foi ‘apagada da história’, ou Jack Ma, o homem mais rico da China até criticar os reguladores financeiros no ano passado.
Isto cria uma procura por bens mantidos noutros países (de preferência secretamente) e um sistema legal que protege a propriedade desses activos”.
Quanto ao conteúdo, partilhado com 600 jornalistas de 150 organizações de media, as críticas podem ser sintetizadas nestes títulos “Will the release of the Pandora Papers lead to any change?“, do Global Americans, ou “Who Cares About the Pandora Papers?“, do The Moscow Times.
Uma visão alternativa foi proposta pelo australiano Michael West, que questionou: “Mas onde estão os políticos americanos? Onde estão os Wall Streeters? Onde estão as Big Four, os mentores da evasão fiscal global PwC, EY, KPMG e Deloitte?
Conspicuamente ausentes, é onde estão. Novamente”.
Uma explicação possível é que os impostos nos EUA são baixos em relação a outros países e têm zonas fiscais interessantes, como o Delaware, desincentivando a fuga de capitais para offshores.
Mas, tal como os Panama Papers e os Paradise Papers antes, escreve West, esta divulgação visa apenas “a Equipa B da evasão fiscal do mundo”. É verdade que todos “os dados não foram realmente divulgados; não muito, de qualquer maneira, talvez 1%. O resto está com o ICIJ em Washington. Eles foram dados ao ICIJ que, por sua vez, liberta pedaços dele, provavelmente uma pequena parte, aos seus ‘parceiros globais de media'”.
Na Austrália, a versão local do Guardian publicou que “os australianos que aparecem nos dados incluem figuras importantes dos sectores financeiro e imobiliário. O Guardian optou por não os identificar”.
Por outro lado, “o ICIJ com sede em Washington tem-se recusado consistentemente a divulgar os seus dados ao público, preferindo conduzir um circo coreografado nos media. O seu director, o jornalista australiano Gerard Ryle, recusou-se a responder às perguntas para este artigo, [o que é] duplamente irónico, já que trabalhámos juntos na redacção [dos jornais da Fairfax Media] e o ICIJ é um farol autodenominado de integridade jornalística dedicado a ‘expor a verdade e a responsabilizar os poderosos, ao mesmo tempo que adere aos mais elevados padrões de justiça e fiabilidade'”.