São as discussões online sobre política mais hostis do que as discussões cara-a-cara, offline?

Uma possível resposta defende que, por a psicologia humana estar adaptada para a interacção pessoal, “o comportamento das pessoas muda para pior em discussões online impessoais”. Mas essa explicação esquece “que as incompatibilidades entre a psicologia humana e as novas características dos ambientes de comunicação online podem (a) mudar o comportamento das pessoas, (b) influenciar as suas percepções e (c) criar efeitos de selecção adversos”, argumentam Alexander Bor Michael Bang Petersen, do Departamento de Ciência Política da Universidade de Aarhus (Dinamarca), em “The Psychology of Online Political Hostility: A Comprehensive, Cross-National Test of the Mismatch Hypothesis“.

Após testarem esta “hipótese da incompatibilidade”, eles encontraram reduzidas provas nesse sentido. Pelo contrário, perceberam que “a hostilidade política online reflecte o comportamento de indivíduos predispostos a serem hostis em todos os contextos (incluindo offline). No entanto, como é mais provável que o seu comportamento seja testemunhado em plataformas públicas online, eles são percebidos como indutores de mais hostilidade”.

Assim, descobriram que “as pessoas não são mais hostis online do que offline; que indivíduos hostis não seleccionam preferencialmente discussões políticas online (versus offline); e que as pessoas não percebem mais hostilidade nas mensagens online”. Do lado dos “indivíduos não-hostis”, estes seleccionam discussões políticas online sejam elas hostis ou não.

Os investigadores recomendam que estudos futuros possam “avaliar se incompatibilidades podem impulsionar a hostilidade em ambientes, plataformas ou situações específicas, mesmo que essas incompatibilidades não gerem hostilidade em todos os ambientes online”. Mas os resultados demonstram que “as normas de civilidade são um pouco mais fracas online do que offline, e a exposição contínua a mensagens hostis pode aumentar essa lacuna, potencialmente impulsionando mais hostilidade por meio de um ciclo vicioso”.

Em segundo, porque os estudos foram conduzidos online, “é fundamental obter dados comportamentais de discussões offline”. É ainda necessário analisar as discussões online “sequestradas por provocadores” (“trolls”), como elementos da Internet Research Agency russa, por eles poderem “incutir hostilidade online, mesmo entre pessoas não predispostas a serem hostis offline”.

Por fim, e “mais importante”, deve-se investir na “hipótese da conectividade”. Os resultados desta investigação “sugerem que o sentimento de que as interacções online são muito mais hostis do que as offline emerge porque os indivíduos hostis – especialmente aqueles com maior status impulsionado pelo risco – têm um alcance online significativamente maior; eles podem identificar alvos mais facilmente e o seu comportamento é mais amplamente visível”.

Na realidade, “qualquer um pode ser um ‘troll'” online mas “aqueles com elevado risco impulsionado pelo status são muito mais propensos a fazê-lo”, e “a agressão não é um acidente desencadeado por circunstâncias infelizes, mas uma estratégia que empregam para obter o que desejam, incluindo uma sensação de status e domínio nas redes online”.

Dito de outra forma, “a hostilidade política online reflecte as intenções deliberadas de indivíduos movidos pelo status de participar em discussões políticas e ofender outros em contextos online ou offline”.

Foto: Tristan Schmurr (CC BY 2.0)