A tragédia de Chernobil ocorreu a 26 de Abril de 1986, em solo da actual Ucrânia e da Bielorússia. Apenas a partir de 2011 as autoridades permitiram o acesso a turistas, no que se tornou um destino bastante requisitado, também devido a uma posterior série televisiva da HBO.

Agora, a “zona de exclusão” teve um rebranding da imagem visual pela agência criativa Banda (presente na Ucrânia e EUA). “As pessoas associam a Ucrânia à guerra e corrupção… e há muitos mitos sobre mutantes em Chernobil”, disse Danya Nesterevych, da Banda. “Queríamos dizer ao mundo que há muito a aprender com o renascimento de Chernobil e que há ali muitas dimensões científicas e culturais importantes”.

Na descrição do projecto, a agência nota como “as cidades da zona de exclusão de Chernobil estão gradualmente a desaparecer, (…) destruídas pelo tempo e absorvidas pela natureza”, havendo necessidade de “chamar a atenção para os locais de memória em desaparecimento” porque, “ao longo do tempo, as pessoas não seriam capazes de ver as consequências directas do desastre que mudou o mundo”.

As cidades enfrentam problemas geológicos naturais que afectam construções humanas, como a Millennium Tower em São Francisco (EUA), ou permitem antecipar uma Miami submersa como no filme “Reminiscence”.

“À medida que milhões de anos se transformam em dezenas de milhões, as transformações ocorrem mais lentamente. Minerais de terras raras, libertados dos telemóveis e de outros dispositivos electrónicos deitados ao lixo, podem começar a formar cristais minerais secundários. (…)

A escala e a complexidade das nossas cidades fósseis testemunharão que éramos seres sociais. Talvez um geólogo de um longo futuro possa concluir que éramos uma espécie de colmeia como as térmitas, mas é provável que haja provas suficientes de invenção individual na grande variedade de marcas fósseis, o que [o professor de paleobiologia na Universidade de Leicester, Jan] Zalasiewicz chama de ‘tecnofósseis’, para sugerir o contrário. Além disso, a engenhosidade necessária para criar algo como um telemóvel – extraindo hidrocarbonetos e metais profundamente enterrados e, em seguida, transportá-los entre continentes para serem manipulados e combinados em montagens altamente complexas – registará a escala da nossa invenção”.

Uma escala em que estaremos “inundados com lixo”, quando a tecnosfera “difere da biosfera num aspecto crucial. A biosfera é extremamente boa a reciclar o material de que é feita, e essa facilidade permitiu que ela persistisse na Terra por milhões de anos. A tecnosfera, ao contrário, é pobre em reciclagem. Alguns dos resíduos são muito óbvios, como os plásticos que se acumulam nos oceanos do mundo e nas suas costas. Outros tipos, incolores e inodoros, são invisíveis para nós, como o dióxido de carbono da queima de combustíveis fósseis. A massa de dióxido de carbono emitido industrialmente na atmosfera é agora enorme – quase um bilião de toneladas, o que equivale a cerca de 150 mil pirâmides egípcias. Este rápido crescimento de produtos residuais, se não for controlado, é uma ameaça à existência continuada da tecnosfera – e dos humanos que dependem dela”, escreve Zalasiewicz. “A tecnosfera hoje não está a evoluir porque ser guiada por alguma força humana controladora mas por causa da invenção e da emergência de novidades tecnológicas úteis. Existe agora uma espécie de co-evolução dos sistemas humanos e tecnológicos”.

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É nestes cenários que as cidades se têm de re-inventar, perante problemas ecológicos e económicos. As cidades que acolhem os Jogos Olímpicos são um exemplo – está-se a atingir um limite que será necessário inverter.

Há quem defenda uma solução de “nomear uma cidade anfitriã permanente que teria o incentivo de construir e manter instalações permanentes”, até porque “os investimentos em infra-estruturas e transportes públicos fariam mais sentido se as autoridades municipais soubessem que precisariam de capacidade extra a cada quatro anos”.

A substituição do modelo actual, que “incentiva a potencial corrupção e deixa as cidades a construírem grandes projectos de infra-estrutura com um prazo de retorno extremamente curto”, parece vingar por si próprio, quando os custos de ter as Olimpíadas “são elevados e têm aumentado ao longo do tempo. As Olimpíadas de 2000 em Sydney custaram sete mil milhões de dólares, enquanto as de 2014 em Sochi custaram mais de 50 mil milhões”. Este ano, Tóquio deverá ter despesas de 20 mil milhões de dólares – quase três vezes mais do que o antecipado na data da candidatura em 2013.

Campo de baseball abandonado após Olimpíadas de 2004 (Atenas, Grécia). Foto: Arne Müseler/CC-BY-SA-3.0

Outra forte razão para alterar o modelo actual deriva do interesse em hospedar os eventos desportivos: “as propostas para os próximos três Jogos Olímpicos de Verão (Paris 2024, Los Angeles 2028 e Brisbane 2032) foram todas decididas sem competição; as cidades que ganharam foram as únicas que concorreram”.

Em resumo, os mega-eventos deixaram de ser apelativos para as cidades mas não o “rebranding” para captar pessoas para as suas melhores atracções culturais, científicas, profissionais, de lazer ou outras.

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