Em 10 mil vídeos recomendados pelo YouTube, 8.065 visualizados foram uma má experiência em Portugal. A média é, em geral, de 11 para cada 10 mil vídeos em inglês mas sobe para os 17,5 nos vídeos cuja língua principal não é o inglês.
Os dados constam do recente relatório “YouTube Regrets: A crowdsourced investigation into YouTube’s recommendation algorithm“, da Mozilla Foundation.
O estudo é claro: “os que não falam inglês são os mais atingidos” por más recomendações do algoritmo do segundo site mais visitado online, com mais de 700 milhões de horas de vídeo vistas diariamente.
O trabalho da Mozilla focou-se no que chama de “arrependimentos do YouTube” ou “YouTube Regret”, um conceito de ampla abrangência criado em 2019 para “histórias sobre o YouTube levar as pessoas por caminhos perigosos e bizarros, principalmente em resultado do seu algoritmo de recomendação”. Confrontado com estes problemas, o YouTube tende normalmente a negá-los.
Os autores não definiram especificamente o termo para serem os utilizadores a classificarem o que consideravam ter sido uma má experiência no YouTube.
As conclusões foram simples: além da questão linguística, a maior parte dos vídeos que os utilizadores se arrependeram de ver foram recomendações, algumas das quais violavam as próprias políticas (“Community Guidelines”) definidas pela rede social, e foram vídeos com forte impacto emocional na vida das pessoas.
O estudo usou uma extensão para os browsers Firefox e Chrome, o RegretsReporter, instalado por 37.380 voluntários em 190 países, para poderem fornecer dados sobre a experiência com os vídeos que tinham visualizado. Foram validados 3.362 relatórios individuais de 91 países, entregues entre Julho de 2020 e Maio passado.
As conclusões apresentam várias recomendações não apenas para o YouTube mas para outras plataformas, legisladores e público em geral, “como:
– as plataformas devem permitir aos investigadores auditar os sistemas de recomendação.
– as plataformas devem publicar informações sobre como funcionam os sistemas de recomendação, bem como relatórios de transparência que forneçam informações suficientes sobre as áreas problemáticas e o progresso ao longo do tempo.
– os decisores políticos devem exigir que o YouTube divulgue informações e crie ferramentas que possibilitem o escrutínio independente dos seus algoritmos de recomendação.
– os decisores políticos devem proteger os investigadores, jornalistas e outros “watchdogs” que usam métodos alternativos aos fornecidos pelas plataformas para as investigar.
– as pessoas devem actualizar as configurações de dados no YouTube e no Google para garantir que têm o controlo correcto para elas e para as suas famílias”.