No final de Junho, a administração norte-americana de Joe Biden encerrou 33 sites noticiosos de países como o Irão ou a Palestina, considerando que eram “agentes de desinformação”.
O caso “mais notável” foi muito provavelmente a emissora estatal iraniana Press TV, que emitia em inglês. “Isto está longe de ser a primeira vez que a Press TV foi visada. Há 18 meses, a Google excluiu a conta do canal iraniano no YouTube; no início deste ano, o Facebook fez o mesmo, a banindo sua página, que tinha mais de 4 milhões de seguidores. Em 2019, os EUA também prenderam Marzieh Hashemi, a apresentadora do canal, mantendo-a sem acusações por mais de uma semana. Hashemi, uma muçulmana, disse que o seu lenço foi removido à força e que só recebeu carne de porco para comer”, relatou a FAIR.
Este tipo de pressão sobre os media não é novo mas espanta por ocorrer com o novo presidente. No caso de Donald Trump, por exemplo, “os repórteres que trabalhavam para meios estrangeiros como a RT America foram forçados a registarem-se como “agentes estrangeiros”, sob uma lei de 1938 aprovada para conter a propaganda nazi. O canal foi posteriormente desactivado em Washington, DC”.
Já este mês, os media e as redes sociais foram novamente visados nos EUA pelo responsável da saúde Vivek Murthy, na primeira publicação após assumir o cargo, “Confronting Health Misinformation: The U.S. Surgeon General’s Advisory on Building a Healthy Information Environment“.
Neste “manual de instruções” cujo objectivo é aumentar o número de vacinados, a mensagem é clara: “Limitar a disseminação de desinformação sobre saúde é um imperativo moral e cívico que exigirá um esforço de toda a sociedade”.
Mas nem todos gostaram da obra, especialmente após a responsável dos contactos com a imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, ter requerido ao Facebook para banir uma dúzia de contas específicas de defensores anti-vacinas. “são 12 pessoas que produzem 65% da desinformação sobre as vacinas nas plataformas dos media sociais”, afirmou Psaki.
A oportunidade foi aproveitada pelos republicanos “para minar ainda mais a autonomia do Facebook”. O senador Josh Hawley chegou a tuitar que “as plataformas de media social são cada vez mais apenas braços do governo federal e da Casa Branca de Biden”. Assim, “porque as empresas #BigTech devem continuar a ser tratadas como empresas privadas quando funcionam como agências do governo federal?”
No ano passado, Mark Zuckerberg afirmou que o Facebook “não tinha planos para “tomar o mesmo tipo de acção enérgica contra a desinformação anti-vacinação que teve com a pandemia do coronavírus”.
Agora, o Facebook só se pronunciou após Biden ter declarado na passada sexta-feira que as plataformas de media social estão a “matar pessoas” ao permitirem desinformação sobre as vacinas.
“Eles estão a matar pessoas. (…) A única pandemia que temos é entre os não vacinados. E eles estão a matar pessoas”, disse o presidente “após ser questionado sobre a desinformação e qual era a sua mensagem para as plataformas de media social como o Facebook”.
Um porta-voz da empresa considerou tratarem-se de “acusações não suportadas pelos factos“, apresentando depois dados onde se mostrava que “85% dos utilizadores do Facebook nos EUA foram ou querem ser vacinados”.
Quando o assunto parecia encerrado, Vivek Murthy declarou à CNN no domingo que embora alguns media sociais tentem “promover fontes precisas como o CDC e outras fontes médicas, (…) o que eu também lhes disse, em público e em particular, é que não é suficiente. Que ainda estamos a ver uma proliferação de desinformação online. E sabemos que a desinformação sobre a saúde prejudica a saúde das pessoas. Custa-lhes a vida”.
O Facebook respondeu que a Casa Branca procurava um “bode expiatório” para culpar “por o país ter falhado os objectivos” da presidência de ter 70% dos americanos adultos com pelo menos uma dose da vacina até 4 de Julho. Mas não ficou longe: conseguiu 67%.
Na segunda-feira, Biden “suavizou” o ataque e disse publicamente que não era o Facebook quem matava pessoas mas a desinformação.
“A minha esperança é que o Facebook, em vez de levar isto para o lado pessoal – que, de alguma forma, estou a dizer que o Facebook está a matar pessoas -, que façam algo sobre a desinformação, as informações ultrajantes sobre a vacina”, disse Biden, citado pelo WSJ. “Foi isso que quis dizer”.
Foi? “O discurso Biden vs. Facebook é um argumento achatado e improdutivo que foi moldado pelas próprias plataformas que eles estão a tentar criticar/defender. Estamos todos presos a argumentar sobre esse falso binário porque é assim que argumentamos agora. E uma grande razão pela qual argumentamos dessa forma é por causa da influência de grandes plataformas como o Facebook, que têm uma influência descomunal em como os nossos media cobrem/amplificam as notícias, como as nossas empresas tentam fugir às responsabilidades, como os nossos políticos enquadram as questões e como o resto de nós processa informações e cai em campos” opostos, escreve Charlie Warzel.