Quase quatro mil milhões de pessoas usam plataformas de media social, como o Facebook e o Twitter, e a media social é uma das principais maneiras pelas quais as pessoas acedem a notícias ou recebem comunicações de políticos. No entanto, a media social pode estar a criar incentivos perversos para conteúdo divisionista, porque esse conteúdo tem grande probabilidade de se tornar “viral”, alertam investigadores dos departamentos de psicologia das universidades de Cambridge (Reino Unido) e de Nova Iorque em “Out-group animosity drives engagement on social media“.

Detectam-se evidências de que os “posts” sobre oponentes políticos têm uma probabilidade substancialmente maior de serem partilhados nas redes sociais e que esse efeito de grupo externo [ou “out-group”, de elementos de fora desse grupo político, desportivo, etc.] é muito mais forte do que outras previsões estabelecidas sobre a partilha nas redes sociais, como a linguagem emocional.

Estas descobertas contribuem para debates académicos sobre o papel dos media sociais na polarização política e podem informar soluções para a criação de ambientes de media social mais saudáveis.

[Por exemplo, Francisco Louçã declara que “para se ter sucesso numa rede social, a melhor receita é ter o máximo de raiva e exprimir o máximo de violência”. Um outro estudo detectou como as redes sociais e a Internet em geral tendem a fomentar os extremismos ou a radicalização:]

Tem havido uma preocupação crescente com o papel que a media social desempenha na polarização política. A animosidade do “out-group” foi particularmente bem-sucedida em gerar aderência em duas das maiores plataformas de media social: Facebook e Twitter.

Analisando (mais de 2,7 milhões) “posts” de notícias e de membros do Congresso dos EUA, os autores descobriram que “posts” sobre um grupo político externo eram partilhados ou retuítados com cerca de duas vezes mais frequência do que “posts” sobre o grupo interno.

Cada termo individual referindo-se ao grupo político externo aumentou as possibilidades de um “post” nas redes sociais ser partilhado em 67%.

A linguagem de “out-group” emergiu consistentemente como a previsão mais forte de partilhas e retuítes: o tamanho médio do efeito da linguagem de “out-group” foi cerca de 4,8 vezes mais forte do que a linguagem de afecto negativo e cerca de 6,7 vezes mais forte do que a moral-emocional – ambos preditores estabilizados de aderência na media social.

A linguagem sobre o grupo externo era um indicador muito forte de reacções de “raiva” (as reacções mais populares em todos os conjuntos de dados), e a linguagem sobre o grupo interno (“in-group”) foi um forte indicador de reacções de “amor”, reflectindo o favoritismo dentro do “in-group” e derrogação no “out-group”. Este efeito do grupo externo não foi moderado por orientação política ou pela plataforma de media social, mas efeitos mais fortes foram mais encontrados entre líderes políticos do que nas contas da comunicação social.

Em resumo, a linguagem de fora do grupo é o preditor mais forte de envolvimento da media social em todos os preditores relevantes medidos, sugerindo que pode estar a criar incentivos perversos para conteúdo que expressa animosidade fora do grupo.

Assim, compreender os factores que fazem com que as publicações nas redes sociais se tornem “virais” online pode ajudar a criar melhores ambientes nessas redes.

Embora as plataformas de media social não sejam totalmente transparentes sobre como o seu sistema de classificação algorítmica funciona, o Facebook anunciou num texto intitulado “Bringing People Closer Together” que estava a mudar o seu sistema de classificação de algoritmo para valorizar formas “mais profundas” de aderência, como reacções e comentários.

Ironicamente, os “posts” sobre um grupo político externo foram particularmente eficazes em gerar comentários e reacções (particularmente a reacção de “raiva”, a mais popular nos estudos destes investigadores). Por outras palavras, essas mudanças algorítmicas feitas sob o pretexto de aproximar as pessoas podem ter ajudado a priorizar os “posts”, incluindo animosidade ao grupo externo.

Além de informar sobre as mudanças algorítmicas, esta investigação pode informar outras alterações de design, ou mudanças de política que podem ser implementadas para melhorar as conversas nos media sociais, bem como pesquisas futuras sobre o papel da identidade social na aderência online.

Perante a ampla discussão de que a media social pode estar a contribuir para a discórdia e a polarização, este trabalho revela como a animosidade do grupo externo prediz a viralidade em duas das maiores redes sociais.

* Artigo publicado nos Proceedings of the National Academy of Sciences (CC).