A ideia de que os sistemas robóticos industriais estão a ter influência no mercado laboral nas economias avançadas na Europa pode estar errada.
Em “Not so disruptive yet? Characteristics, distribution and determinants of robots in Europe“, investigadores do Joint Research Centre e da Universidade de Salamanca (Espanha) defendem “que esses tipos de robôs são essencialmente versões mais sofisticadas das tecnologias de automação existentes”, e que “a distribuição de robôs industriais é extremamente concentrada em poucas actividades económicas e países”.
Por outro lado, analisando os dados entre 1995 e 2015, constatam como a crescente e “recente robotização recente não esteve associada à digitalização ou inovação industrial, mas sim à automatização de processos rotineiros em indústrias de escala intensiva” e, “embora isso possa mudar no futuro, os robôs ainda não são tão inovadores”.
As tecnologias robóticas actuais são “a iteração mais recente das tecnologias de automação industrial que já existem há muito tempo. Essas tecnologias tiveram, sem dúvida, o seu maior impacto gerações atrás, explicando parcialmente as mudanças nas estruturas de emprego nos sectores agrícola e da manufacturação que remontam à Revolução Industrial”.
Desta forma, os potenciais efeitos nos empregos pela actual tecnologia robótica “são limitados”, assim como a resposta sobre se os robôs industriais “são ou não uma tecnologia disruptiva”.
Uma visão “provisória” passa por atentar no que são capazes de fazer, “a sua distribuição entre sectores e países e os factores associados à sua implantação na Europa nos últimos anos”.
Os investigadores concluíram que há factores em falta no actual debate sobre os robôs industriais na Europa. “Em primeiro lugar, ao analisar as aplicações dos robôs industriais na fabricação europeia, mostramos que esses tipos de robôs são essencialmente versões mais sofisticadas das tecnologias de automação anteriores”.
Depois, demonstram como “a distribuição de robôs industriais é extremamente concentrada nalgumas actividades económicas e nalguns países”.
Por fim, sobre as variáveis sector-país associadas à mudança na densidade do robôs na Europa, constatam que “a robotização não foi significativamente associada com a digitalização ou inovação industrial no período 1995-2015, mas com a automação contínua de processos de rotina em indústrias de escala intensiva”, podendo desta forma defender que existiu uma “continuação de processos incrementais e de longo prazo de automação nalgumas indústrias específicas, ao invés de um processo disruptivo de mudança tecnológica na manufactura europeia”.
Quais os efeitos destas constatações? “Em termos de implicações de política, estes factos descritivos simples devem trazer uma boa dose de cepticismo ao debate em curso sobre os efeitos destrutivos dos robôs. Os robôs actualmente em operação na Europa são simplesmente muito concentrados e especializados, limitados a sectores que já empregam muito poucas pessoas e ao desempenho de tarefas que já são muito marginais, para ter grandes efeitos no emprego” – excepto entre eles: os robôs industriais “são mais propensos a substituir robôs anteriores do que trabalhadores humanos”.
* Foto: Mirko Tobias Schäfer (CC)