Em França, uma dúzia de associações de jornalistas juntaram-se para pedir o levantamento das restrições que dificultam a liberdade de informar. A carta aberta foi publicada no Libération e diz o seguinte:

Nestes tempos de pandemia, entre confinamentos e recolher obrigatório, os jornalistas podem parecer privilegiados: com o seu cartão de imprensa, pelas necessidades da sua actividade, podem circular sem restrições. Na televisão, podem até tirar a máscara.

Mas às vezes as aparências enganam. E a liberdade de informar, como a liberdade de movimentos, não foi poupada pela crise sanitária.

Claro, ir para a rua ainda é possível – com o risco de contaminação que isso pode representar. Mas o acesso às informações tornou-se mais difícil.

Perguntar livremente, pedir detalhes, repetir para obter um esclarecimento, permitir-se duvidar de uma afirmação… Esta é uma das bases da prática jornalística, que muitas vezes se realiza em contexto de conferências de imprensa. No entanto, durante meses, as conferências de imprensa foram reduzidas ao mínimo. Quando existem, reúnem apenas um punhado de jornalistas, encarregados, na melhor das hipóteses, de recolher e transmitir as perguntas dos seus colegas. Sem saber sempre quais as informações realmente procuradas e sem poder contar com o apoio de um colega para as repetir, se necessário.

Actualmente, somos mais frequentemente convidados para videoconferências ou “briefs” telefónicos. Lá, é por “chat” que colocamos as nossas perguntas… esperando que se dignem respondê-las. O que pode ser mais fácil do que simplesmente ignorar uma pergunta irritante colocada numa “roda” WhatsApp ou numa conversa no Teams? Algumas organizações recusam simplesmente perguntas em directo, ou até mesmo quaisquer perguntas. Outras exigem que se participe num grupo do WhatsApp para aceder às suas informações.

Muitos eventos anteriormente abertos a jornalistas estão agora vedados e resultam apenas num tranquilo comunicado de imprensa. E quando, excepcionalmente, a cobertura da imprensa é planeada, na maioria das vezes é na forma de “pool”: apenas um pequeno grupo de jornalistas é admitido, obrigado a partilhar as imagens e as informações recolhidas com outras redacções. É impossível para estes fazerem as suas próprias perguntas e ter a sua própria perspectiva sobre o evento. Outro hábito já bem estabelecido: o “microfone estendido” no final de uma deslocação ou de uma reunião deixa espaço, mais uma vez, apenas para um número muito limitado de perguntas – e permite terminá-las na primeira oportunidade.

Soma-se a isso a dificuldade de criar e manter uma rede desde o início da crise de saúde: por mais que seja possível manter a ligação com uma fonte por telefone quando a relação já está bem estabelecida, pode ser delicado a recolha de informações sensíveis ou inéditas de uma pessoa que nunca encontrámos…

A situação sanitária merece certamente cautela, mas também oferece algumas oportunidades de limitar o acesso à informação.
Embora as lojas, esplanadas e teatros tenham acabado de re-abrir as suas portas e as próximas semanas devam permitir um regresso gradual à normalidade, nós, associações de jornalistas, apelamos às fontes de informação – autoridades públicas, instituições, empresas, etc. – para também eliminarem as restrições à liberdade de informar, no respeito pelas recomendações sanitárias.

A um ano da eleição presidencial, e enquanto as polémicas e as notícias falsas florescem, os franceses merecem ter acesso a uma informação livre e de qualidade.

Os signatários: Association des journalistes de l’information sociale (Ajis), Association nationale des journalistes de l’assurance (Anja), Association des journalistes éducation-recherche (Ajéduc), Association des journalistes scientifiques de la presse d’information (AJSPI), Association des journalistes économiques et financiers (Ajef), Association de la presse présidentielle (APP), Association de la presse ministérielle (APM), Association des journalistes parlementaires, Association de la presse judiciaire, Association des journalistes de défense (AJD), Association des journalistes de l’environnement (AJE), Association des journalistes médias (AJM), Association de la presse diplomatique.

* Foto: Thibaut Prévost (licença CC)