O estudo “The credibility of corruption statistics – A critical review of ten global estimates“, do Chr. Michelsen Institute (Noruega), é claro: “a maioria das estatísticas globais da corrupção são baseadas em estimativas, extrapolações ou generalizações. Elas são plausíveis? Revimos dez dos números mais amplamente citados, rastreando cada um até à sua fonte e avaliando a sua credibilidade e fiabilidade. Descobrimos que nenhum pode ser classificado como fiável e apenas dois se aproximaram. Depois de criticar esses números frequentemente citados, sugerimos cinco maneiras pelas quais as organizações podem melhorar as afirmações estatísticas sobre a corrupção que apresentam ao público”.
Nos pontos principais do trabalho, os autores destacam:
– A corrupção e as suas consequências são inerentemente difíceis de medir. No entanto, profissionais, legisladores e doadores costumam achar útil expressar algumas dimensões básicas da corrupção em termos quantitativos.
– As principais organizações internacionais, agências doadoras e grupos da sociedade civil citam frequentemente estatísticas globais de corrupção nos seus documentos e discursos públicos. Há necessidade de mais transparência sobre a origem e fiabilidade de algumas das declarações estatísticas mais frequentemente citadas.
– Analisámos dez estatísticas da corrupção global, tentando rastrear cada uma até à sua origem e avaliar a sua credibilidade e fiabilidade. Estas estatísticas referem-se ao montante de subornos pagos em todo o mundo, ao montante de fundos públicos roubados/desviados, aos custos da corrupção para a economia global e à percentagem de ajuda ao desenvolvimento perdida com a corrupção, entre outros.
– Das dez estatísticas que avaliámos, nenhuma pôde ser classificada como fiável e apenas duas ficaram próximas de serem credíveis. Seis das dez estatísticas são problemáticas, e as outras quatro parecem totalmente infundadas.
– A citação generalizada de estatísticas não fiáveis prejudica os esforços para compreender a natureza do problema da corrupção. As organizações que solicitam estratégias anticorrupção baseadas em provas devem ser mais cuidadosas com a qualidade das provas que apresentam.
– Para melhorar o uso das estatísticas da corrupção, as organizações devem rastreá-las até à sua fonte original; ler a fonte original com atenção; distinguir entre reivindicações de autores individuais e das suas instituições; usar linguagem qualificativa para evitar a imputação de certeza e precisão indevidas às estimativas em bruto; e focarem-se em provas de efeitos ou de associações significativas, em vez de estatísticas que simplesmente parecem impressionantes (…)

Eles reduziram uma lista original de 71 estatísticas para as dez seguintes, que são o foco desta análise:
1. Aproximadamente 1 bilião de dólares é pago em subornos em todo o mundo todos os anos.
2. Aproximadamente 2,6 biliões em fundos públicos são roubados/desviados todos os anos.
3. A corrupção custa à economia global aproximadamente 2,6 biliões de dólares, ou 5% do PIB global, a cada ano.
4. A corrupção, junto com a evasão fiscal e os fluxos financeiros ilícitos, custa aos países em desenvolvimento aproximadamente 1,26 biliões por ano.
5. Aproximadamente 10% a 25% dos gastos com compras governamentais são perdidos para a corrupção a cada ano.
6. Aproximadamente 10% a 30% do valor da infra-estrutura com financiamento público é perdido para a corrupção a cada ano.
7. Aproximadamente 20%-40% dos gastos no sector da água são perdidos para a corrupção a cada ano.
8. Até 30% da ajuda ao desenvolvimento é perdida em fraudes e corrupção a cada ano.
9. A corrupção relacionada com as alfândegas custa aos membros da Organização Mundial das Alfândegas pelo menos 2 mil milhões de dólares ao ano.
10. Aproximadamente 1,6% das mortes anuais de crianças menores de 5 anos (mais de 140 mil mortes por ano) são devidas em parte à corrupção.
Tentámos rastrear cada uma destas estatísticas até à sua fonte original. Às vezes, isso foi simples, mas muitas vezes não. Quando não tínhamos a certeza sobre a origem da estatística – por exemplo, porque ela foi citada num discurso que não forneceu fontes -, alargámos a nossa investigação para ver se poderíamos fazer uma suposição fundamentada, com base em estatísticas aparentemente relacionadas mencionadas noutros documentos, quanto à fonte original (…)
Rumo a melhores estatísticas de corrupção
Concluímos oferecendo cinco sugestões para melhorar o uso de estatísticas de corrupção (ou, neste caso, quaisquer estatísticas quantitativas) em relatórios e declarações públicas.
1. Rastreie sempre (e, em documentos escritos, cite e/ou crie um “link” para) a fonte original.
2. Leia a fonte original com atenção.
3. Não confunda a afiliação institucional de um autor com os resultados oficiais da instituição.
4. Não exagere na certeza, precisão ou generalidade.
5. Evite estatísticas “decorativas” e concentre-se em evidências de efeitos ou associações significativas.