Na passada sexta-feira, 23 de Abril, o primeiro-ministro, António Costa anunciou o lançamento do Sines 4.0, um projecto de dinamização da região e que ocorre após o encerramento da central a carvão da EDP em Sines, a 14 de Janeiro.

O Sines 4.0 será um investimento num mega-centro de dados no parque industrial a realizar pela multinacional Start Campus e que “poderá ascender a 3.500 milhões de euros, que criarão até 1.200 empregos directos altamente qualificados e 8.000 indirectos até 2025”, refere o governo.

A Start Campus foi apresentada como uma “empresa de capitais anglo-americanos”, detida pelos fundos de investimentos da norte-americana Davidson Kempner Capital Management (DKCM) e da britânica Pioneer Point Partners (PPP).

A DKCM foi notícia em Portugal ao comprar 216 milhões de crédito malparado do Novo Banco, após já ter comprado o portefólio “Nata 2” (numa estratégia de investimento em países europeus). Deste malparado adquirido em 2019 por 3.000 milhões de euros, constava a dívida da Ongoing, grupo liderado por Nuno Vasconcellos, e da Sogema, de Bernardo Moniz da Maia.

Na vertente mais tecnológica, a DKCM e a PPP investiram nos Echelon Data Centres, na Irlanda, em 2020. À semelhança de Portugal, e perante as críticas aos seus elevados consumos energéticos, estes centros de dados declaram apostar nas energias renováveis.

No seu site, relativamente ao potencial apoio do governo, a Start Campus revela que a 1 de Março o centro de dados foi considerado de interesse nacional (PIN), o que garante que “todos as entidades licenciadoras deram a pré-aprovação do projecto e se comprometeram formalmente a agilizar o licenciamento”, embora “o licenciamento total” só deva estar concluído no final deste ano.

Segundo o governo, implicará a construção de cinco edifícios para alojar o mega centro de dados, cuja “construção deverá iniciar-se em 2022” e a inauguração do primeiro edifício deverá ocorrer no ano seguinte.

A empresa refere ainda que “uma comissão governamental especial foi criada para garantir o desenvolvimento do projecto e que o licenciamento seja contínuo” e que a classificação PIN “facilita o acesso a benefícios fiscais para empresas que desenvolvem projectos de investimento significativos”.

No entanto, não se percebe com quem anda o governo a negociar. A referida empresa não existe ou ainda não está registada.

No European Union Intellectual Property Office, a Start Campus surge como uma marca registada a 14 de Janeiro deste ano, assim como a Sines 4.0. Ambas pertencem à Start – Sines Transatlantic Renewable & Technology Campus, Lda, cujo objecto social é principalmente actividades de consultoria, engenharia e desenvolvimento de projectos de energias renováveis.

O sócio maioritário da Start, com uma quota de 382,50 euros, é a Foxford Capital L5, acompanhada pela quota de 117,50 euros da Pioneer Sines Holdings (PSH), segundo informação disponível no Ministério da Justiça.

A Foxford Capital L5 é uma investidora norte-americana. O seu CEO é Michael Muldowney e o director é Matt Baxley que, desde 2019, assume o mesmo cargo em cerca de 30 empresas.

O director da PSH é Sam Abboud, que foi apresentado no evento em Portugal como “parceiro fundador da PPP e porta-voz da start campus“.

Abboud e Terrence Majid Tehranian lideraram a PSH desde a sua constituição, a 17 de Novembro de 2020, mas Tehranian saiu 10 dias depois do cargo.

Em resumo, parecem ser a Foxford Capital L5 e a Pioneer Sines Holdings quem vai gerir o futuro Hyperscale Data Center de Sines.

[act.: A Start Campus, empresa detida pela norte-americana Davidson Kempner e pela britânica Pioneer Point Partners, vai iniciar já na próxima semana a construção da primeira fase do complexo tecnológico Sines 4.0, avançou ao Expresso o presidente-executivo (CEO) da Start Campus, Afonso Salema.]

Antevisão do projecto