Comemora-se esta sexta-feira, 2 de Abril, o International Fact-Checking Day, promovido pela International Fact-Checking Network e outros envolvidos neste tipo de projectos.

Segundo a organização, “a verificação de factos não deve ser algo que apenas verificadores profissionais fazem. Um ecossistema de informações fiáveis exige que todos façam a sua parte”.

Um dos últimos exemplos desta posição foi assumida por Jack Dorsey, que testemunhou por escrito perante o House Committee on Energy & Commerce, a 25 de Março.

O responsável do Twitter considera que os esforços da empresa para combater a desinformação “devem estar vinculados à conquista da confiança. Sem confiança, sabemos que o público continuará a questionar as nossas acções”.

Esta confiança passa por “aumentar a transparência, garantir a justiça processual, permitir a escolha algorítmica e fortalecer a privacidade”, bem como desenvolver soluções inovadoras no combate à desinformação, como sucede com as duas experiências Birdwatch e Bluesky.

O primeiro, lançado em Janeiro, é “uma abordagem da desinformação baseada na comunidade”, que se espera venha a ampliar “a gama de vozes envolvidas no combate à desinformação e agilize o ‘feedback’ em tempo real que as pessoas já adicionam aos tweets”. A Reason considerou-a uma “interessante experiência científica” mas várias organizações de “fact-checkers” rapidamente “manifestaram a sua desconfiança sobre a iniciativa“.

No caso do Bluesky, trata-se de uma equipa independente “para desenvolver normas abertas e descentralizadas para a media social”. Esta “acabará permitindo que o Twitter e outras empresas contribuam e acedam a algoritmos de recomendação abertos que promovem uma conversa saudável e, em última análise, fornecem aos indivíduos uma maior escolha”.

No geral, considerou Dorsey, “as empresas de tecnologia têm muito trabalho a fazer para ganhar a confiança de quem usa os nossos serviços. Para o Twitter, isso significa lidar com a transparência, justiça processual, escolha algorítmica e privacidade. Acho que essa abordagem será uma tendência crescente em todas as empresas e organizações, grandes e pequenas”.

A Techdirt resumiu as declarações de Dorsey mostrando como, “em vez de se focar no poder que o Twitter tem para decidir como, quem e o que moderar, o testemunho de Dorsey falou sobre várias maneiras pelas quais procuram dar mais controlo aos próprios utilizadores”, não se assumindo o Twitter como “o árbitro final”.

No entanto, cerca de um mês depois, a 23 de Fevereiro, um conjunto de empresas tecnológicas (onde se incluía o próprio Twitter, o Facebook, Google, Microsoft ou TikTok) assumiu a gestão do processo num código de anti-desinformação na Austrália.

O consórcio DIGI comprometeu-se a “rotular conteúdo falso nas suas plataformas, diminuindo o acesso a esse conteúdo e dando prioridade a fontes fiáveis de informação”. Haverá também uma suspensão ou mesmo desactivação de “contas ofensivas e falsas, incluindo ‘bots’ que disseminam informações automaticamente nas suas plataformas”.

Claramente, estes modelos de auto-regulação não parecem funcionar, como o mais visível Oversight Board do Facebook demonstra.

Entre declarações de boas intenções, há quem assuma esta postura mas depois faz muito pouco. O exemplo do Facebook é claro, quando se sabe que a desinformação da extrema-direita não é penalizada naquela plataforma, ao contrário do que sucede com outros extremismos políticos.

A questão da “escolha algorítmica” pelo Twitter é também importante porque, em vez de a rede social ficar “a controlar tudo, diferentes utilizadores podem optar por diferentes opções algorítmicas e diferentes fornecedores podem criar as suas próprias opções algorítmicas”.

Isto assumindo que se consegue atacar o negócio dos criadores de desinformação, “incrivelmente resiliente e adaptável“,e determinar com alguma certeza porque mesmo pessoas com capacidades de literacia para os media disseminam “fake news” em que não acreditam.

A solução proposta é, de qualquer forma, inteligente no sentido de testar algo que ainda não foi feito. No actual panorama de imposição sem sucesso das plataformas sociais no combate à desinformação, ela tem o potencial de diminuir o nível da má informação por acção dos próprios utilizadores, sem impedir o trabalho pago dos verificadores de factos ou o financiamento académico de estudos e análises posteriores sobre o tema ou até se avançar com outras soluções em paralelo.

Neste enquadramento, faltam os políticos mas a análise da Techdirt sobre essa vertente não é auspiciosa, porque “se o Congresso estivesse realmente interessado em resolver os problemas percebidos que eles declararam durante a audiência, talvez explorassem estas iniciativas e pedissem a Jack que explicasse como elas podem impactar as questões sobre desinformação ou dano ou ‘censura’ ou ‘pensar nas crianças‘”.

Isso não aconteceu e parece mesmo que ninguém questionou Dorsey nesse sentido. “O que ouvi muito, no entanto, foram membros da Câmara insistindo, furiosamente (sempre com raiva), que nenhum dos CEOs presentes estava disposto a ‘oferecer soluções’ e é por isso que ‘o Congresso deve e irá agir!'”

Ou seja, como constatam outros, “os políticos dos EUA estão a explorar o sentimento anti-Big Tech para atingirem a liberdade de expressão na media social“. E a legislar nesse sentido.