Em Fevereiro passado, a Airbnb tinha uma lista de 22.242 ofertas na cidade de Lisboa, das quais 74,1% eram de casas ou de apartamentos na sua totalidade.
Esta oferta focada no turismo urbano tem levado os proprietários deste tipo de imóveis a recuperá-los e a alugá-los por curtos períodos temporais, afastando os antigos residentes pela inflação directa no valor das casas e pelo aumento do custo de bens nas zonas preferidas para este tipo de turismo.
Em “Airbnb, buy-to-let investment and tourism-driven displacement: a case study in Lisbon“, investigadores analisaram este fenómeno na zona de Alfama entre 2015 e 2017 e concluíram que ocorre “um processo de investimento de compra para aluguer no qual diferentes participantes lucram com os alugueres e substituem os residentes pelos turistas”.
No resumo, explicam que “a Airbnb actua como um instrumento que contribui para a financeirização da habitação. Em comparação com o mercado de aluguer tradicional, os alugueres de curta duração oferecem uma série de benefícios que aumentam a eficiência do mercado para os proprietários, tornando-os cada vez mais atraentes para investidores locais e globais”.
Os fornecedores deste tipo de serviços “são principalmente investidores que usam a habitação como um activo para armazenar capital”, sendo a principal vantagem o poderem lucrar com os alugueres mas também o poderem vender esse activo a qualquer momento. Em resumo, a empresa é “um exemplo de gentrificação do tipo comprar-para-alugar que é vivida pelos residentes como um processo de injustiça social”.
Mas como se chegou a este estado? Um estudo apresentado esta terça-feira sobre a ética e transparência na organização política empresarial mostra como a Airbnb “mobiliza e coordena os seus arrendatários como advogados políticos para fazerem lobby pelas suas formas preferidas de regulação”.
Em “The Airbnb ‘movement’ for deregulation“, mostra-se que a empresa financia campanhas de desregulação em centenas de cidades, usando grupos aparentemente independentes mas a agirem no seu interesse para conseguirem regulação local favorável aos seus interesses.
O estudo da Ethical Consumer e da University of Manchester declara que existem cerca de 400 “home-sharing clubs” em diversas cidades em todo o mundo, “formados para advogar por regulação favorável” para a plataforma de aluguer fundada em 2008. Estes “clubes” com alguns proprietários seleccionados “são financiados, mobilizados e coordenados” pela empresa.
Há meia dúzia de anos, em São Francisco (EUA), por exemplo, activistas conseguiram assinaturas suficientes para referendar uma legislação mais restrita sobre os alugueres a curto prazo.
A Airbnb gastou mais de 8 milhões de dólares para travar a nova lei. “A campanha contratou consultores, investigadores, especialistas em media social e 11 militantes políticos a tempo integral com experiência nas campanhas eleitorais de Obama. Eles lideraram uma campanha para envolver os utilizadores locais da plataforma. De acordo com a empresa, a sua equipa fez 32 mil chamadas telefónicas para 6.500 proprietários de Airbnb na cidade, várias centenas dos quais foram persuadidos a comparecer em protestos e audiências judiciais, e afirmou ter falado para 105 mil pessoas”, diz-se na apresentação do estudo.
Este foi enviado à Airbnb antes da sua publicação para obter uma resposta formal. A empresa declarou apenas que “anunciámos a criação dos Host Clubs numa conferência de imprensa em 2015. Os Host Clubs sempre trabalharam em conjunto com as nossas equipas para defender a comunidade Airbnb e estamos extremamente orgulhosos desse trabalho”.