A pandemia da Covid-19 perturbou a maneira como trabalhamos e interagimos com máquinas – e pessoas – no local de trabalho. O crescimento do teletrabalho provocado pela pandemia ampliou a necessidade de operações de trabalho sem manuseamento. Mais automação, no entanto, nem sempre torna o local de trabalho mais eficiente.

As indústrias que dependiam muito de operações manuais, como os armazéns ou processamento de carne, agora estão a introduzir sistemas mais automatizados ou tele-operados. Ao contrário das máquinas tradicionais operadas manualmente, na tele-operação o operador humano senta-se num local remoto, longe da máquina que controla.

Apesar de alguns dos benefícios inquestionáveis ​​da automação, no entanto, essas tendências são em parte uma tentativa de abordar as elevadas taxas de Covid-19 entre os trabalhadores fabris.

E apesar de alguns desses benefícios inquestionáveis ​​da automação, no entanto, adoptar simplesmente uma abordagem baseada na tecnologia com o objectivo de substituir todas as operações manuais por robôs não é uma solução viável.

Interacção homem-máquina
Durante décadas, o que foi conhecido como factores humanos, uma disciplina na intersecção da ciência cognitiva, engenharia e cinética, investigou a interacção homem-máquina no local de trabalho, com o objectivo de compreender os benefícios e consequências indesejadas da automação. Entre os fenómenos investigados está o que é conhecido como o paradoxo da automação.

Este paradoxo – também conhecido como paradoxo da tecnologia – ocorre quando a introdução de um sistema automatizado vai adicionar, e não reduzir, a carga de trabalho e as responsabilidades do operador humano.

Isso sucede porque os sistemas automatizados geralmente requerem mais conhecimento, supervisão humana e intervenção do operador humano sempre que algo corre mal.

Um caso exemplificativo é a triagem de segurança no aeroporto. Esta indústria passou por uma revolução na automação há muitas décadas. No entanto, os dados mostram que a taxa de insucesso neste sector ainda é de 95%. Porquê?

A resposta a esta pergunta é menos sobre a tecnologia e mais sobre o facto de que os programadores de sistemas muitas vezes ignoram ou negligenciam o factor humano.

Por outras palavras, é adoptada uma abordagem centrada na tecnologia em vez de uma outra focada no ser humano.

Ignorar ou subestimar os factores humanos na automação não apenas torna os sistemas impossíveis de usar, mas, mais importante, prejudica a segurança.

Reconhecer os limites
Uma solução para isto é desenvolver sistemas que ajudem a automatizar operações intensivas manualmente, bem como ter em conta os limites conhecidos da cognição humana, como a incapacidade de realizar multitarefas de forma eficaz ou manter a atenção numa determinada tarefa por longos períodos de tempo.

Como muitas outras inovações nascidas de tempos difíceis na história da humanidade, o impulso para mais automação e tele-operação desencadeada pela pandemia Covid-19 deve vir com a promessa de operações de local de trabalho mais eficientes e seguras.

Mas, em vez de depender total e exclusivamente do que é tecnologicamente possível, os programadores de sistemas devem colocar os seres humanos no centro da automação do projecto, em vez de os relegar para a sua periferia.

* Texto de Francesco Biondi, publicado na The Conversation. Reproduzido sob licença (CC BY-ND 4.0). Foto: xresch/Pixabay, e imagem da Phantom Auto.