A pandemia e os confinamentos, bem como a radicalização de grupos de extrema-direita, estão a aumentar o interesse pelas armas montadas a partir de peças feitas em impressoras 3D.

Segundo “vários fornecedores de projectos de armas impressas em 3D, todos disseram que houve um aumento de três vezes em downloads e vendas desde que se agravou a pandemia”, revelou o site .coda.

A ideia de usar as impressoras 3D para criar armas tem cerca de uma década e chamou a atenção das autoridades dos EUA. Em 2018, um tribunal de Seattle proibiu mesmo a comercialização do software para as criar.

Como explica o .coda, trata-se de “um processo em três etapas. Primeiro, faz-se download ou cria-se um ficheiro CAD com as especificação a dar à impressora; depois imprimem-se as peças que, por fim serão montadas”. Pode parecer difícil mas até a construção de casas impressas em 3D se está a desenvolver.

Membros dos grupos de extrema-direita, como dos movimentos Boogaloo e The Base, são dos mais interessados, embora o seu uso seja perigoso para o utilizador e para as autoridades.

“Elas não têm números de série e não podem ser rastreadas pelas autoridades”, nem o seu proprietário necessita de qualquer autorização para porte de arma. Dependendo do material em que são impressas, podem não ser identificadas por detectores de metais.

Por fim, não há regulamentação. “A impressão 3D de armas de fogo e componentes de armas de fogo é uma tendência séria que vale a pena observar”, disse Jon Lewis, do Program on Extremism na George Washington University, tanto mais que os ficheiros CAD “estão disponíveis gratuitamente na Internet e dificilmente serão removidos completamente com sucesso”.

A tendência ainda é observável porque estas armas apresentam várias falhas, embora esses defeitos estejam a ser geridos, nomeadamente em laboratórios de investigação.

Por enquanto, “a maior parte do controlo de qualidade sobre as peças impressas em 3D é deixada para a pessoa que opera a impressora ou para quem usa a peça. A maioria dos consumidores não tem as capacidades técnicas necessárias para conceber ou realizar os testes apropriados e provavelmente nunca os aprenderá. Até que as máquinas sejam mais sofisticadas, o que quer que seja feito com elas – sejam armas de fogo ou outros itens – não é fiável o suficiente para garantir o seu uso com segurança”, escreveu Jeremy Straub, da North Dakota State University.

No caso das armas de fogo, “ao contrário das tradicionais, que podem disparar milhares de tiros durante a sua vida útil, as armas impressas em 3D normalmente duram apenas alguns tiros antes de se desfazerem, dizem alguns especialistas. Eles não têm carregadores que permitam o transporte das habituais nove ou 15 munições; em vez disso, geralmente têm uma ou duas balas e devem ser recarregados manualmente”, explica a CBC.

“Não se está a falar em fazer uma arma de verdade”, referiu Tony Bernardo, director executivo da Canadian Shooting Sports Association. “Está-se a falar sobre como fazer algo que pode dar cinco tiros [antes de] estourar nas suas mãos”.

No entanto, há sinais de alerta para quando estes problemas estiverem mais próximos de estar resolvidos. A conclusão do artigo “Worlds Collide when 3D Printers Reach the Public“, publicado na Michigan State Law Review em 2014, é clara: “o uso de impressoras 3D domésticas está-se a difundir à medida que a tecnologia se torna mais acessível. Embora a tecnologia forneça aos indivíduos a capacidade de transformar ideias em objectos sólidos sem nunca sair de casa, ela também lhes fornece um poder intransponível para fabricar armas perigosas sem qualquer regulamentação. À medida que o uso de impressoras 3D cresce, a regulação para evitar o uso indevido da tecnologia precisa de ser implementada”.

A legislação sobre direitos autorais, nota a autora Katie McMullen, “deve ser usada como um modelo para criar nova regulação adaptada à tecnologia de impressão 3D para evitar que desenhos de armas para impressão 3D caiam nas mãos de pessoas perigosas”.

* Foto: Electric-Eye (CC BY-ND 2.0)