Investigadores analisaram torneios de xadrez profissionais entre 1890 e 2014 e descobriram que a capacidade cognitiva aumenta acentuadamente até ao início dos anos 20 e, em seguida, estabiliza.
O desempenho também aumentou de forma constante ao longo do século XX, acentuando-se na década de 1990, o que coincidiu com o aparecimento da tecnologia digital.
Mais de 24 mil jogos de xadrez disputados em torneios profissionais ao longo de 125 anos foram analisados por cientistas para medir como a idade afecta a capacidade cognitiva.
Segundo eles, os humanos atingem o seu pico cognitivo por volta dos 35 anos e começam a declinar após os 45. E as capacidades cognitivas actuais excedem as dos nossos antepassados.
“O desempenho revela um padrão em forma de curva ao longo do ciclo de vida”, referem os autores no artigo “Life cycle patterns of cognitive performance over the long run” publicado nos Proceedings of the National Academy of Sciences. “O desempenho individual aumenta acentuadamente até ao início dos anos 20 e, em seguida, mantém-se estável, com um pico em torno dos 35 anos e um declínio sustentado nas idades mais avançadas”.
A curva da capacidade cognitiva humana (imagem PNAS)
Movimentos de campeão
Surpreendentemente, pouco se sabe como a capacidade cognitiva humana se altera ao longo da vida, apesar das tarefas no local de trabalho se tornarem mais exigentes cognitivamente.
O estudo analisou torneios de xadrez profissional entre os anos de 1890 e 2014, com um registo de mais de 1,6 milhões de jogadas individuais.
Ao comparar os movimentos humanos com os movimentos ideais que um computador de xadrez faria, os investigadores foram capazes de mapear como o desempenho cognitivo de um jogador mudou à medida que envelhecia.
Esta métrica forneceu uma visão dos padrões de desempenho por idade e a sua dinâmica ao longo do tempo e entre grupos etários, dizem os autores.
Divisão digital
No total, foram observados 4.294 jogadores, sendo 20 campeões do mundo e 4.274 adversários.
O estudo cobriu todos os campeões mundiais de xadrez desde o primeiro geralmente aceite, Wilhelm Steinitz (viveu de 1836 a 1900), até Magnus Carlsen (nascido em 1990, campeão mundial desde 2013).
Os jogadores nascidos após a década de 1970 mostraram uma capacidade cognitiva média em torno de mais de 8% do que jogadores nascidos por volta de 1870.
“Os nossos resultados sugerem que as condições em que as pessoas crescem hoje – o que certamente inclui o rápido crescimento da tecnologia digital – têm um impacto decisivo no desenvolvimento das suas capacidades cognitivas”, diz Uwe Sunde, professor de economia da Universidade de Ludwig Maximilian de Munique e um dos autores do estudo.
Os dados também mostraram que o desempenho aumentou de forma constante ao longo do século XX e aumentou durante a década de 1990.
“Isto coincide com uma fase em que a nova tecnologia da informação e a disponibilidade de motores de xadrez poderosos e acessíveis em computadores domésticos tornaram o conhecimento específico do xadrez amplamente disponível e mudou drasticamente as possibilidades de preparação dos jogadores”, dizem os autores.
A capacidade cognitiva actual é melhor do que a dos nossos antepassados (imagem PNAS)
Capacidades do futuro
O rápido crescimento da tecnologia digital não está a afectar apenas as nossas capacidades cognitivas – também está a moldar o futuro do trabalho.
O “Future of Jobs Report 2020” do World Economic Forum examinou a perspectiva de adopção da tecnologia, empregos e capacidades nos próximos cinco anos, incluindo as disrupções relacionadas com a pandemia.
O pensamento crítico, a análise e a resolução de problemas estão entre as principais capacidades que os empregadores esperam ver crescer de forma proeminente até 2025, conclui o relatório.
Os autores também alertam que a janela de oportunidade para requalificar e actualizar os trabalhadores tornou-se mais apertada num mercado de trabalho mais restrito.

* Texto de Victoria Masterson publicado no World Economic Forum. Reproduzido sob licença Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International. Foto: Adrian Askew (CC BY 2.0)