A explosão que afectou Beirute, no Líbano, teve um enorme impacto que se chegou a supor ser um ataque com uma bomba nuclear. A desinformação que poucas horas depois já estava a espalhar-se não contribuiu para diminuir os temores.

A violência da explosão foi enorme. O Earthquake Hazards Program do U.S. Geological Survey (USGS) revelou que “a magnitude relatada não é directamente comparável a um terramoto de tamanho semelhante porque a explosão ocorreu na superfície onde as ondas sísmicas não são geradas com tanta eficiência. As notícias indicam que a explosão foi causada por 2.750 toneladas de nitrato de amónio, o que equivale aproximadamente a 1.100 toneladas de TNT“. Outros cálculos apontaram para valores entre as 240 toneladas e as 3.000 toneladas de TNT.

O efeito noutros locais usando estes valores da explosão são visíveis para quem quiser efectuar uma simulação no NukeMap.

Apesar das comparações com a bomba lançada em Hiroshima (13 mil a 18 mil toneladas de TNT) e do efeito da nuvem como se fosse uma explosão nuclear, há outras explicações científicas para esse fenómeno.

Também em termos de mortes, enquanto o Líbano estima em algumas centenas os falecimentos pela explosão, o lançamento da bomba nuclear em Hiroshima, a 6 de Agosto de 1945, terá morto entre 90 mil e 120 mil pessoas.

As comparações são naturais, quando tanto se fala dos 75 anos sobre o primeiro teste com uma bomba nuclear, a 16 de Julho de 1945, no Trinity Site (New Mexico, EUA). A bomba seria equivalente a uma expolosão entre as 700 e as 5.000 toneladas de TNT. Na realidade, “a força da detonação foi equivalente a 20 mil toneladas de TNT“.

Seguiu-se o lançamento das bombas nucleares em Hiroxima e, poucos dias depois, em Nagasaqui, ataques que actualmente seriam considerados “ilegais“. Apesar das ideias de que estes ataques nucleares aceleraram o fim da guerra ou serviram para os japoneses se renderem, elas são falsas mas perduram entre os europeus, como revelou um inquérito efectuado em Outubro do ano passado a mais de 7.000 pessoas em nove países na Europa.

A então denominada União Soviética apenas realizou o primeiro teste em 1949. Seguiu-se o Reino Unido (1952), França (1960) e China, em 1964. Juntaram-se ao “clube nuclear” Israel, na década de 1960, Índia (1974), Paquistão (1998) e Coreia do Norte (2006).

Estes “nove países no mundo possuem um total de 13.355 armas nucleares. Os Estados Unidos e a Rússia respondem por 92%. Desde o pico em meados da década de 1980, os arsenais globais diminuíram em mais de três quartos. Mais países desistiram de armas e programas nos últimos 30 anos do que tentaram adquiri-los”, afirma o Ploughshares Fund.

No entanto, alguns especialistas consideram que o uso actual de armas nucleares está tão próximo como desde a crise dos mísseis com Cuba, em 1962, quando até o Congo se viu envolvido na criação das bombas lançadas sobre as duas cidades japonesas, numa operação mantida em segredo durante décadas.

Os esforços para o controlo nuclear – que devem melhorar no próximo ano com um novo acordo do Tratado de Proibição de Armas Nucleares – passam também pela posição da China. Mas, à posse das armas nucleares, junta-se na actualidade a fragilidade dos sistemas tecnológicos capazes de perturbar a estabilidade dessa ameaça, como a inteligência artificial (IA) e falhas na cibersegurança. A “estabilidade estratégica quando nenhum país tem um incentivo para lançar um primeiro ataque nuclear, sabendo que ao fazê-lo inevitavelmente levará a uma resposta catastrófica”.

Assim, mais do que tensões geopolíticas entre EUA, Rússia ou China, teme-se pela “instabilidade estratégica” e pelo “efeito desestabilizador de tecnologias emergentes” como as referidas.

“A caixa preta da IA no futuro da guerra torna-a quase inerentemente imprevisível”, refere P. W. Singer, estratega da New America e autor de “Burn-In”, enquanto a ciberguerra pode afectar os sistemas de comando e controlo, além da migração em curso de ciberconflitos para o espaço.

Os decisores políticos nos EUA já abordaram a questão se iriam responder com um ataque nuclear a “um ciberataque em larga escala à infra-estrutura da energia eléctrica, o que pode servir como um impedimento mas também abre um caminho novo e imprevisível de escalada para o conflito nuclear”.

Em “The Impact of cyber warfare on nuclear deterrence: A conceptual and empirical overview“, o autor considera como “a ciberguerra é um assunto altamente contestado entre estrategas e especialistas”. Apesar de ser “um fenómeno real”, a ciberguerra “está longe de produzir resultados decisivos. O ciberespaço é um meio para conduzir operações militares e vários países fizeram investimentos em recursos para atacar e defender-se contra ciberataques”. Mas precisamente “o uso extensivo do ciberespaço cria oportunidades, bem como desafios e vulnerabilidades para países que possuem ciber-recursos”.

Para ilustrar um simulacro de lançamento de mísseis, dois investigadores da Rand alertam em “How Might Artificial Intelligence Affect the Risk of Nuclear War?” que “a IA pode ser estrategicamente desestabilizadora, não porque funciona muito bem mas porque funciona apenas o suficiente para alimentar a incerteza”.

O que a explosão esta semana em Beirute demonstra de forma tão trágica é que os erros acontecem, numa sociedade que tem de gerir crescentes níveis de incerteza.

[act.: How today’s nuclear weapons compare to those used in WWII: The future

In 2018, Russia announced it had developed a nuclear-armed underwater autonomous vehicle dubbed Poseidon. The vehicle, Russian officials said, could quietly carry a nuclear warhead with a yield of tens of megatons to a point just offshore an enemy city.

The United States spends nearly $50 billion a year on its nuclear weapons. In 2020, media said the Trump administration was considering ways to restart testing.

Nuclear-armed neighbors China and India have seen border disputes escalate to bloodshed, and North Korea is building a nuclear-armed submarine.

Even so, 75 years have passed without a nuclear attack.

“I worry that people have become complacent and think that nuclear devastation only happens in black-and-white photographs,” said Jeffrey Lewis, head of the East Asia Nonproliferation Project at the Middlebury Institute of International Studies. “I am hopeful that we can stretch the streak for decades more – but the real question is whether nuclear deterrence will work forever. I am not so sure about that. And that means, sooner or later, our luck will run out.”]

Global nuclear stockpile.