A televisão era sobre o mundo mas a Internet é sobre o indivíduo. E “diferentes ambientes de media criam diferentes sociedades”.

Escreve Douglas Rushkoff: “uma sociedade que funciona nessas plataformas tende a formulações igualmente discretas. Gostar ou não? Preto ou branco? Rico ou pobre? Concorda ou discorda? Num ciclo de ‘feedback’ auto-reforçado, cada escolha que fazemos é notada e posta em prática pelos algoritmos que personalizam os nossos ‘feeds’ de notícias, isolando ainda mais cada um de nós na nossa própria bolha de filtro ideológico. A Internet reforça o seu elemento principal: o binário. Isso leva-nos a escolher um dos lados”.

Mas muito mais mudou. “A Internet era usada para nos tornar mais inteligentes. Agora, nem tanto“.

“Com o tempo, o entusiasmo pela pureza intelectual da Internet foi superado pela necessidade de agradar aos investidores. As revistas de negócios anunciaram que a Internet poderia salvar o mercado accionista moribundo, criando mais espaço para o crescimento da economia – mesmo que esse espaço adicional fosse virtual. Um motor de busca concebido para promover o pensamento académico tornou-se a maior agência de publicidade do mundo, e uma plataforma de media social concebida para ajudar as pessoas ligarem-se tornou-se no maior recolector de dados do mundo”.

A Internet não nos fez evoluir também ao nível visual. Após mais de 20 anos de estudos, percebe-se que continuamos a ler nos ecrãs da mesma forma como o fazíamos. Lemos como “cortadores de relva“. E do mundo mostrado pela televisão chegámos ao mundo pelo “doomscrolling” nos smartphones. Qual o impacto?

Em qualquer casamento, há uma pessoa a fazer ‘doomscrolling’ e a ler as notícias em voz alta antes do café, e outra que implora para ela que pare“…