Dava pelo nome de WorldWideWeb e servia para “navegar” na World Wide Web (WWW), num ciberespaço hoje normalmente denominado por Web. Está na origem de uma das competições tecnológicas mais caras para ter um produto que não custava nada para o utilizador.
O WorldWideWeb não se limitava a ser um browser no sentido tradicional com que os conhecemos actualmente mas era também um editor WYSIWYG (What You See Is What You Get), que só funcionava para as páginas Web criadas no sistema operativo NeXTStep, da NeXT (o projecto de Steve Jobs quando saiu da Apple).
A “visão” desta Web foi inicializada em Março de 1989 por Tim Berners-Lee em “Information Management: A Proposal“. O seu responsável no laboratório europeu de física das partículas (CERN) considerou-a como “vaga mas excitante“, e assim permaneceu durante alguns meses.
O WWW não era um projecto oficial do CERN mas Berners-Lee conseguiu trabalhar nele a partir de Setembro de 1990. No mês seguinte, tinha terminado os três pilares da Web: a HyperText Markup Language (HTML), o sistema de endereços Uniform Resource Identifier (URI, também conhecido por URL), e o Hypertext Transfer Protocol (HTTP).
Criou então o WorldWideWeb – que acabou por ficar com o nome de Nexus – e o primeiro servidor da Web (“httpd”).
Lançado em Dezembro de 1990, era a forma mais eficaz de aceder à Web e, no ano seguinte, foi aberto ao público – sem grande sucesso.
Foi tudo muito rápido
Legatheaux Martins, responsável do “chapter” nacional da Internet Society (ISOC) recorda como “durante 1991, os membros do projeto ‘Vertente IP da FCCN’, o projecto que organizou a primeira bolsa de Internet em Portugal, analisaram as várias tecnologias de acesso a conteúdos informativos então disponíveis (e.g. Gofer), que eram todas muito incipientes”.
Descobriram “o projecto WWW do CERN. Nessa altura só havia um cliente (mais tarde chamado browser) na linha de comando. No entanto, o CERN tinha também desenvolvido um cliente gráfico para servidores WWW. Infelizmente só corria nas máquinas NeXT, à data vendidas pela nova startup do Steve Jobs: NeXT Machines.
Só considerámos útil o cliente na linha de comando porque ninguém fora das universidades tinha acesso a máquinas NeXT e nessa altura a linha de comando ‘não metia medo’ aos informáticos”.
Sem imaginar “a explosão do acesso pelo grande público à Internet que estava para vir”, esta ocorreu e “só foi possível porque apareceu um primeiro cliente WWW gráfico para o IBM PC – o Netscape. Mas em 1994, nos EUA, os outdoors de anúncios de novos filmes em Los Angeles já tinham todos a referência para um site WWW. Foi tudo muito rápido a partir do momento em que o grande público tinha acesso à WWW através de um cliente gráfico a correr em PCs e Macs, e isso foi o Netscape que tornou possível”.
A pré-história dos browsers
O Mosaic não foi o primeiro browser gráfico para a Web. Foram vários os que se candidataram a triunfar num reduzido mercado muito vincado por comunidades específicas.
Após a versão original do WorldWideWeb, o matemático do CERN Nicola Pellow desenvolveu uma nova versão em linha de código para as redes UNIX ou MS-DOS, generalizando o seu acesso (ver, a este propósito, o comentário de Legatheaux Martins).
Seguiu-se o Erwise, programado em 1991 por estudantes finlandeses. Lançado publicamente em 1992, permitia pesquisas a texto nas páginas Web. Em Abril desse ano, surgiu o ViolaWWW, criado por Pei-Yuan Wei na University of California, para denominar uma “Visually Interactive Object-oriented Language and Application”.
No Verão desse ano, é lançado o Midas, concebido por Tony Johnson para a comunidade de físicos de Stanford. Em paralelo, no CERN, Nicola Pellow e Robert Cailliau tentam desenvolver o primeiro browser gráfico para Macintosh, o Samba que, em Setembro desse ano, ainda não estava a funcionar, como se lamentava Berners-Lee. O Samba seria a segunda versão do browser pós-NeXT e para Macintosh mas o National Center for Supercomputing Applications (NCSA) na University of Illinois “eclipsou-a”.
Em 1992, Joseph Hardin e Dave Thompson estavam no NCSA quando souberam do trabalho de Berners-Lee. Fizeram o download do ViolaWWW e mostraram os resultados internamente.
Marc Andreessen – que o achou “terrível” – e Eric Bina começaram a desenvolver um browser, cuja versão 0.5 do Mosaic foi mostrada em 23 de Janeiro de 1993, a que se seguiu uma mensagem distribuída à comunidade científica por Berners-Lee. Meses depois, apareceu uma versão para Macintosh, desenvolvida por Aleks Totic.
Em Março de 1993, na University of Kansas, o estudante Lou Montulli assumiu o lançamento do Lynx, e na Cornell University’s Law School, Tom Bruce lançou para PC o Cello, a 8 de Junho que, pouco depois, conseguia ter 500 downloads por dia.
A importância do Mosaic
Perante estas pré-formas de acesso online, o NCSA agilizou o Mosaic para quem pouco sabia de computadores e tornou-o estável.
A primeira versão beta do Mosaic para o sistema operativo Unix surgiu a 23 de Janeiro de 1993 mas só em Novembro desse ano foi lançado o Mosaic v1.0, com propostas inovadoras como as “bookmarks”, uma interface mais facilitada e apresentação de imagens.
A sua importância resume-se a que foi o browser que deu acesso à Web a utilizadores que não sabiam o que era a Web. Era igualmente interessante por “portar” aplicações anteriores de acesso à Internet, como o File Transfer Protocol para transferência de ficheiros, e estar disponível para o disseminado sistema operativo Windows.
As diferentes versões do Mosaic eram constantes melhorias. A primeira 0.1a começou a ser criada em Junho de 1993 apenas a nível interno. A versão beta da 0.6b surgiu em Setembro e a versão 1.0 a 11 de Novembro.
A versão 2.1.1 generalizou o interesse ao ser usada no sistema operativo da Microsoft. A sua disponibilidade gratuita gerou mais de 5.000 downlods por mês – um sucesso para a época, com o tráfego da Internet sempre a crescer. No ano seguinte, tinha uma base instalada de milhões de utilizadores.
Andreessen e vários elementos da equipa de desenvolvimento saíram para criar a Netscape, que garantiu os direitos de lançamento do software e ainda pode ser usado a partir do Archive.org.
O desafio foi lançado pelo fundador da Silicon Graphics e investidor James Clark e, com William Foss, os três fundaram a Mosaic Communications Corporation em Abril de 1994.
De Mosaic a Netscape
Em Outubro desse ano, a revista Wired descrevia como, “com o Mosaic, o mundo online parece ser um vasto universo interligado de informações. Pode-se entrar a qualquer momento e começar a passear; não são necessários endereços da Internet ou comandos do teclado. Os métodos complexos de extrair informações da rede estão ocultos. Quase todas as pessoas que o usam sentem o impulso de adicionar algum conteúdo próprio. Desde que o Mosaic apareceu pela primeira vez, segundo o NCSA, o tráfego dedicado à navegação hipermédia aumentou dez mil vezes”.
A primeira versão pública, o Mosaic Netscape 0.9, foi lançado a 13 de Outubro de 1994. Por questões de direitos de autor, o termo Mosaic desapareceu e Netscape emergiu. Até a empresa passou a ser Netscape Communications.
Em 1995, o browser Navigator da Nestcape começou a ganhar quota de mercado ao Mosaic, até porque a Microsoft o licenciou para criar o Internet Explorer (IE) nesse ano e para ser lançado com o novo sistema operativo.
O Netscape Navigator era líder incontestado do mercado até aparecer o IE. Nunca houve uma versão pública do IE 1.0. A v2.0 foi acrescentada ao sistema operativo da Microsoft em Agosto de 1995. O objectivo foi, segundo a ZDNet, “destruir a Nestcape“.
Os desenvolvimentos confirmaram esse cenário. A Netscape processou a Microsoft e, entre outros, o Departamento de Justiça investigou a empresa de Seattle por actuação anti-concorrencial e acusou-a de ser um “monopólio ilegal”. A Netscape ganhou o processo mas “era demasiado tarde”.
A NCSA descontinuou o suporte ao Mosaic a 7 de Janeiro de 1997 e a Netscape Communications foi comprada pela AOL em 1998, quando foi criada a Mozilla Foundation. No ano seguinte, a Netscape libertou o código do browser como “open source”, dando origem ao Firefox.
A 1 de Fevereiro de 2008, a AOL deixou de suportar o Netscape.
Mais do mesmo
Quanto aos outros e actualmente mais conhecidos browsers, são de uma geração mais avançada. Em geral, acabou a concorrência e o que o utilizador tem são actualizações do mesmo software.
O Opera começou como projecto interno da operadora de telecomunicações norueguesa Telenor antes do lançamento público em 1996. A Apple apenas lançou o seu browser Safari em 2003. O Firefox em 2004. Em 2008, foi a vez da Google avançar com o Chrome.
Uma linha dos lançamentos entre 1996 e 2015 está disponível nesta Browser Timeline.
Em 2003, o NCSA ainda comemorou os 10 anos de lançamento do Mosaic, “o primeiro browser Web gráfico disponível livremente“.
A Internet era um lugar escuro
Luísa Ribeiro Lopes, presidente do Conselho Directivo do .PT, a entidade de gestão do domínio de topo nacional, sintetiza que embora esta pandemia possa ser “o maior motor de aceleração tecnológica e de uso da Internet que provavelmente aconteceu, muitos outros desenvolvimentos foram cruciais ao longo dos anos para chegarmos à utilização cada vez mais generalizada da Internet”.
Antes dos browsers gráficos, “a Internet era um lugar escuro, sem cor e com pouca interactividade e de acesso quase só para especialistas. A partir de meados dos anos 90, com o advento dos browsers gráficos, fomos levados para aquilo a que podemos chamar de uma nova Internet”.
Esta “foi essencial para acelerar, democratizar, globalizar e incrementar a disponibilização de sites, conteúdos e plataformas várias que tornam a rede um lugar como hoje a conhecemos”.